Não era pra ser Eu

Não era pra ser eu, entre tantos espermatozóides lutando pra ganhar um espaço no mundo nasci.

Não era pra ser eu, ter vivido toda infância com uns dramas no meio, fazendo eu não conhecer meu pai realmente.

Não era pra ser eu, ter passado toda a inocência em meios de garrafas vazias de cachaça e cigarros baratos poluindo a sala.

Não era pra ser eu, ter sofrido preconceito com oito e nove anos de idade na escola e pelo o bairro violento.

Não pra ser eu, ter padrasto militarista que conjugava meu sexo como aberração.

Não era pra ser eu, ter trocado de escola e viver tudo tão intensamente onde tudo que era banal era aceito.

Não era pra ser eu, chegar na adolescência tão radicalista, fazendo dos meus melhores amigos meus Irmãos.

Não era pra ser eu, fazer do ano de 2010 o ano mais foda da minha vida, quebrando tabus, beijando as lésbicas mais alternativas da escola.

Não era pra ser eu, crescer tão rápido se tornar sensacionista fazer do meu humor uma charge barata paga pelas ironias do destino.

Não era pra ser eu, trocar de cidade tão precoce, guardar toda a minha adolescência na gaveta e viver como adulto padronizado.

Não era pra ser eu, ter arrumado um emprego só pra mostrar que queria liberdade nas veias, fazer daquele emprego um teatro com seus palhaços selecionados por outros palhaços comunistas.

Não era pra ser eu, ter pedido demissão entregar os pontos no fim do programa, mas não guardo mágoas por queria me liberta dos circo dos horrores.

Não era pra ser eu, escolhido uma religião formada, entre Santos e tontos sai dela pra curtir as energias do momento, fazendo da minha fé interna e não expostas como o ser humano comum faz.

Não era pra ser eu, ser filho, companheiro, paciente, preguiçoso, metódico, não era.

Não era pra ser eu, o amigo, o bondoso, o generoso, o que sonha, o que imagina, o que cria, o suplica, não era.

Não era pra ser eu, é um grito em silêncio uma crônica doída, uma pássaro no espaço sem ter horizonte.

Não era pra ser eu, é este que falei acima, é eu sim, é eu de coração, é eu que me alimento de sonhos, é eu que escrevo só pra aliviar a dor da alma.

Não era pra ser eu é uma farsa de mim.

Psicopata Perdido
Enviado por Psicopata Perdido em 02/04/2016
Reeditado em 02/04/2016
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