As Vozes daqueles que não podem falar - Ato IV

Ato IV

“Loro. Loro quer biscoito!”

As palavras... Sempre as mesmas palavras. As únicas que me ensinou e, em consequência, as únicas que aprendi. Não sei o que significam nem sei para quê usa-las, mas sei que, para mim, são inúteis, pois nunca consigo fazer com que me compreenda.

Não sei como dizer que não quero as suas bolachas. Que as acho horríveis, juntamente com aquelas pequenas sementes artificiais que me força a consumir. Que o que mais desejo são os pequenos e deliciosos pedaços de frutas que minha mãe oferecia a mim e aos meus irmãos.

Não sei que palavras usar para lhe fazer entender que minhas asas não foram feitas para serem cortadas, mas sim para sentirem as correntes de vento que iriam me levar cada vez mais alto e mais longe.

Não consigo encontrar uma maneira para que entenda que eu não sou como vocês, que gostam de se isolarem num cubículo, com apenas os seus aparelhos estranhos como companhia, longe do mundo que continua a girar a sua volta. Quero ser livre, conhecer o máximo desse mundo que tanto tem a me oferecer, enquanto ainda me é possível.

Não sei que palavras usar para expressar esses meus desejos. Entretanto, se você pudesse me dedicar um pouco da sua atenção, essas palavras não seriam necessárias, pois bastaria que olhasse bem no fundo dos meus olhos para enfim poder entender.

Relato de um papagaio falador.