Aparências
Olhei para aquele homem com certo receio. Aspecto sujo, mãos cheias de graxa, uma barbicha ridícula, boné na cabeça, brinco na orelha. É um larápio, concluí.
- Moço, você pode dar uma olhada nesse pneu? Tá amassado bem aqui e tá vazando tudo.
- Claro que posso.
O homem entrou no pequeno espaço da oficina. Pegou uma máquina pra subir o carro e tirar o pneu, que estava praticamente vazio.
- Tá seco hein, senhora?!
- É...
Na noite anterior, havia batido numa quina de calçada numa rua escura e acabei amassando o aro do pneu.
Acompanhei todo o processo de perto. O homem batia, alisava, batia mais. Secou o pneu, passou um líquido qualquer, encheu o pneu e calibrou. Colocou o pneu no lugar e eu só pensava "Na certa vai me cobrar um absurdo! A cara dele não nega!".
20 minutos depois:
- Esta tudo pronto! Pode rodar tranquila.
- Certo, obrigada! Quanto foi?
É agora, pensei.
- R $ 5,00 só.
- Quanto?
- R $ 5,00.
Uma mistura de alívio e vergonha tomou conta de mim.
- O senhor tirá de R $ 50,00?
- A gente dá um jeito, minha filha!
Sorri.
- Tome, aqui seu troco.
- Obrigada. Precisa calibrar agora?
- Não, não senhora. A gente já calibra na hora de encher.
- Ah, tá. Muito obrigada.
- Nada. Se precisar, pode aparecer.
- Pode deixar que eu volto sim.
E fui embora.