O CÃO SEM NOME

Ele apareceu como tantos que eram colocados nas lotações e por qualquer quantia o motorista aceitava leva-los, largando-os em qualquer lugar, distante dos seus antigos donos que já não os desejavam mais. Eram cães enjeitados.

Mas esse era diferente. Chamava a atenção pela magreza, olhar apático; parecia mais um morto-vivo. Andava devagar, cabeça baixa e sem se aproximar de nenhum cão de rua. Passados uns quinze dias, voltei a vê-lo deitado sobre uma pilha de tijolos. Sempre dormindo, ou de olhos semifechados parecendo espiar o mundo por uma fresta. Era como se dissesse: Já não sou desejado. Desisti e vou respirando até quando der.

Entrei na loja para comprar a ração para meu gato e como o vendedor estava disposto a conversar e fiz menção do cão citado acima, e que por coincidência havia chamado a atenção do rapaz que estava alimentado o ‘coitado’. Ele me disse que no início, o cão não tinha nem forças para erguer a cabeça, mas que agora já estava se alimentando com ração, havia recebido vitamina e quando estivesse mais forte seria tratado de outras mazelas.

Elogiei tal conduta. Revelei a quantidade de cães e gatos abandonados na cidade e de que mesmo separando comida para os que andavam perambulando perto da minha casa eu não seguia dar conta dos demais que encontrava em cada rua. Falei do que havia sentido quando encontrara tal cão e que repudiava a ação de pessoas que agiam dessa forma. Saí dali satisfeita porque o cão sem dono encontrara um dono.

Gostaria que essa história tivesse um final feliz, mas no domingo seguinte encontrei o cão morto. Na cidade havia na noite anterior uma festa, e alguém ou algumas pessoas decidiram tirar a vida do cão sem nome. Simples assim. O corpo ficou largado... Outra pessoa pagou uns trocados ou prometeu uma dose de pinga a dois ‘bebuns e eles pegaram o corpo já inchado, colocaram-no dentro de um saco visando deixar a frente do comércio ‘limpo’.

Coincidência ou não, no sábado ( um dia antes de encontrar o cão morto), dia de feira, ruas cheias, pessoal dos sítios vindo passear na ‘cidade’, encontrei outro carro de lotação com uma cadela amarrada, dentro dessas caixas onde se coloca verdura ou fruta. A coitada tentava se equilibrar a cada movimento que o carro fazia. Era outra vítima do abandono que viria ficar no lugar do cão sem nome. Simples história? Triste, assim.

IoneSak 31/03/16

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 31/03/2016
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