Recuerdos do Golpe de 64

Faz muito tempo... 52 anos. Eu era, como diz a canção de Fagner e Belchior, apenas um rapz de vinte anos. Vinte anos de amor. Era metido a esquerdista, mas o meu fraco eram os prazeres próprios da idade, e nem a danada da asma me detinha. Mas o golpe de 64 por algum tempo cortou o meu barato. O rapaz de 20 anos teve que abrir mão de alguns dos seus prazeres porque era filho de comunista, e isso era pior que ter bexiga preta que pega no vento.

Estava em casa, tomando a sopinha da noite com um pãozinho francês, quansdo, de repente, tive que interromper: a polícia, acompanhada por alguns truculentos de uma família violenta do lugar com seus capangas estava na porta e iam invadir a casa. Imaginem o choque brutal, estaávamos eu, minha mãe e meus irmãos menores, e aquele pessoal todo armado na porta. A polícia emburacou logo, mas, pasmem, os truculentos foram barrados por meus irmãos menores e ficaram babando de raiva na calçada. Queriam prender meu pai, realmente depois prenderam. O que achei mais triste foi que os vizinhos, pessoas amigas, que frequentavam nossa casa, fecharam suas portas e apagaram as luzes, não tiveram um gesto de solidariedade para com uma mulher e seuis filhos sendo aterrorizados pela polícia e pelos truculentos e seus capangas. Apenas o gerente do Banco do Brasil, um cidadão que era anticomunista total, ele não aguentou e mesmo de pijamas foi até nossa casa prestou solidariedade e recriminou os invadores. Os meganhas então, cendo que meu pai não estava em casa, e devido à ação do gerente,se retiraram. Mas roubaram alguns objetos, inclusive um relógio de minha mãe. Além de arbitrários eram ladrões.

Passamos maus momentos. pessoas conhecidas quando se encontravam conosco fingiam estar amarrando o cadarço dosapato ou trocavam de calçada. Uma grande amiga de minha mãe mandou um bilhete pedindo pelo amnor de Deus para que ela não a cimprimentasse na feira, porque tinha medo de figurar na lista dos amigos dos comunistas. Nos colégios, padres e freiras perseguiam e esculhambavam com os comunistas para humilhar seus filhos. Doeu muito, mas depois amainou. Mas ficaram as cicatrizes. O que achei ainda mais covarde foi a tal passeata para comemorar a "Revolução", padres, freiras, comerciantes, médicos, figurs da sociedade de braços dados com bandidos, ladrões, assassinose cafajestes. E quando chegavam na frente da casa de um comunistas gritavam impropérios. Um absurdo, algo de clamar aos céus.

Já disse aqui numa maltraçada que a única classe social que não discriminou os comunistas na minha terra, em Arcoverde, foram as putas. Elas demonstraram caráter. Respeito essa classe, mais do que todos os swegmentios da sociedade, de ontem e de hoje. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 31/03/2016
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