Como Posso Te Chamar?
Já tem um tempinho que a minha filha me apresentou seu namorado, o José Ricardo. Foi o José Ricardo que me levou para votar na última eleição. Com o mesmo José Ricardo fomos jantar fora algumas vezes e também o convidei para almoços de domingo. E ... Ah sim! Nunca o chamei de Zé Ricardo como todo munda faz por que não queria me apegar ao moço. Antes do José Ricardo, teve um outro moço, o Renan. Sem querer querendo me apeguei ao Renan, e jurei a mim mesma que não me apegaria mais, nem usaria os nomes mais carinhosos dos rapazes que viessem a namorar a minha filha.
Mas ai, chegou o dia de conhecer a filha do José Ricardo, a Vitória. Foi um encontro bem descontraído no finalzinho de outubro pois me lembro da loja ainda toda enfeitada e repleta de brinquedos para o Dia das Crianças. Convenci a minha filha e o namorada a deixarem a Vitória e a minha neta Helô comigo. Falei, "Aproveitem o momento para distrairem um pouco. Eu cuido das meninas.
A Vitória é só um ano mais velha que a Helô mas dava para ver que as duas já estavam entrosadas, 'bem amiguinhas' e cumplices só pelas risadinhas e as mãozinhas entrelaçadas. Pegamos um carrinho e as duas subiram em cima e lá fomos nós passear entre milhares de brinquedos.
A Helô me chamava, "Vó! Olha ali! A casa da Barbie!" Dei uma olhada e quase tive um treco. Com o dinheiro daquela casa da Loira, dava para comprar tranquilamente uma barraca de camping para duas pessoas! Ou um liquidificador! Novamente a Helô, com aquele gritinho de menininha de seis anos, "Vó! Vó! Olha ali! Ali!" E lá, toda bela e formosa, estava ela, a Barbie clonada em inúmeras versões: Barbie Médica, Barbie Veterinária, Barbie Bailarina, Barbie Secretária ... As meninas já estavam babando. Apenas comentei que o preço estava bem salgado e foi aí que a Vitória me fitou com seus olhinhos castanhos e com carinha de quem queria fazer uma pergunta mas preferiu ficar em silêncio. Não consegui ficar indiferente ao ver a menina se calar e logo fui perguntando, "O que foi Vitória? Quer me contar alguma coisa?" A menina muito sem graça respondeu, "Como posso te chamar?" Na certa não era a primeira vez que ela passava por isso. Pais separados dá nisso. Vira e mexe, a criança é apresentada à uma nova namorada do pai ou novo namorado da mãe.
Nossa! Que saia justa ela me colocou! Procurei fazer cara de despreocupada mas por dentro eu buscava as palavras certas para contornar essa situação toda. Responder à essa pergunta tão simples mas constrangedora não seria fácil. Afinal, qual seria o meu papel junto à essa menina?
Resolvi pensar em voz alta, "Ué, Tia não sou né. Nem vou ser. Avó? Vovó? Acho que suas duas avós não iriam gostar de ter mais uma na disputa pelo seu carinho e atenção. Eu mesma ficaria uma fera se a Helô chamasse a sua avó de Vovó. Hummmm ... Sei lá. Diga você, Vitória. Você pode escolher o nome que quer me chamar, ok?" A Vitória fez que sim com a cabeça, e novamente as risadinhas das meninas soavam pela loja.
Depois de uma grande volta, a Vitória aproximou de mim e disse, "E se eu te chamar de Jo Jo?" Soltei uma gargalhada e revelei que só duas pessoas me chamam assim. Na verdade, dois ex-alunos muito queridos: Vanessa e Guilherme. Mas, se ela quisesse me chamar de Jo Jo, tudo bem. E assim, a Vitória começou a me chamar de Jo Jo.
E na minha cabeça eu ouvia o, "Get Back" dos Beatles, principalmente aquela parte do, "Jojo was a man who that he was a loner but he knew it wouldn´t last ...".
Pena que a Jo Jo não durou muito tempo. Namoro vem, namoro vai ... O José Ricardo nunca virou Zé Ricardo mas virou história e levou a Vitória junto.
No meu tempo de criança, tia e tio eram os irmãos dos nossos pais e não todo adulto que passava pela nossa vida em um certo momento ou outro.
A gente só tinha quatro avos, sem direito à substitutos.
No meu tempo era assim e bastava.
Já tem um tempinho que a minha filha me apresentou seu namorado, o José Ricardo. Foi o José Ricardo que me levou para votar na última eleição. Com o mesmo José Ricardo fomos jantar fora algumas vezes e também o convidei para almoços de domingo. E ... Ah sim! Nunca o chamei de Zé Ricardo como todo munda faz por que não queria me apegar ao moço. Antes do José Ricardo, teve um outro moço, o Renan. Sem querer querendo me apeguei ao Renan, e jurei a mim mesma que não me apegaria mais, nem usaria os nomes mais carinhosos dos rapazes que viessem a namorar a minha filha.
Mas ai, chegou o dia de conhecer a filha do José Ricardo, a Vitória. Foi um encontro bem descontraído no finalzinho de outubro pois me lembro da loja ainda toda enfeitada e repleta de brinquedos para o Dia das Crianças. Convenci a minha filha e o namorada a deixarem a Vitória e a minha neta Helô comigo. Falei, "Aproveitem o momento para distrairem um pouco. Eu cuido das meninas.
A Vitória é só um ano mais velha que a Helô mas dava para ver que as duas já estavam entrosadas, 'bem amiguinhas' e cumplices só pelas risadinhas e as mãozinhas entrelaçadas. Pegamos um carrinho e as duas subiram em cima e lá fomos nós passear entre milhares de brinquedos.
A Helô me chamava, "Vó! Olha ali! A casa da Barbie!" Dei uma olhada e quase tive um treco. Com o dinheiro daquela casa da Loira, dava para comprar tranquilamente uma barraca de camping para duas pessoas! Ou um liquidificador! Novamente a Helô, com aquele gritinho de menininha de seis anos, "Vó! Vó! Olha ali! Ali!" E lá, toda bela e formosa, estava ela, a Barbie clonada em inúmeras versões: Barbie Médica, Barbie Veterinária, Barbie Bailarina, Barbie Secretária ... As meninas já estavam babando. Apenas comentei que o preço estava bem salgado e foi aí que a Vitória me fitou com seus olhinhos castanhos e com carinha de quem queria fazer uma pergunta mas preferiu ficar em silêncio. Não consegui ficar indiferente ao ver a menina se calar e logo fui perguntando, "O que foi Vitória? Quer me contar alguma coisa?" A menina muito sem graça respondeu, "Como posso te chamar?" Na certa não era a primeira vez que ela passava por isso. Pais separados dá nisso. Vira e mexe, a criança é apresentada à uma nova namorada do pai ou novo namorado da mãe.
Nossa! Que saia justa ela me colocou! Procurei fazer cara de despreocupada mas por dentro eu buscava as palavras certas para contornar essa situação toda. Responder à essa pergunta tão simples mas constrangedora não seria fácil. Afinal, qual seria o meu papel junto à essa menina?
Resolvi pensar em voz alta, "Ué, Tia não sou né. Nem vou ser. Avó? Vovó? Acho que suas duas avós não iriam gostar de ter mais uma na disputa pelo seu carinho e atenção. Eu mesma ficaria uma fera se a Helô chamasse a sua avó de Vovó. Hummmm ... Sei lá. Diga você, Vitória. Você pode escolher o nome que quer me chamar, ok?" A Vitória fez que sim com a cabeça, e novamente as risadinhas das meninas soavam pela loja.
Depois de uma grande volta, a Vitória aproximou de mim e disse, "E se eu te chamar de Jo Jo?" Soltei uma gargalhada e revelei que só duas pessoas me chamam assim. Na verdade, dois ex-alunos muito queridos: Vanessa e Guilherme. Mas, se ela quisesse me chamar de Jo Jo, tudo bem. E assim, a Vitória começou a me chamar de Jo Jo.
E na minha cabeça eu ouvia o, "Get Back" dos Beatles, principalmente aquela parte do, "Jojo was a man who that he was a loner but he knew it wouldn´t last ...".
Pena que a Jo Jo não durou muito tempo. Namoro vem, namoro vai ... O José Ricardo nunca virou Zé Ricardo mas virou história e levou a Vitória junto.
No meu tempo de criança, tia e tio eram os irmãos dos nossos pais e não todo adulto que passava pela nossa vida em um certo momento ou outro.
A gente só tinha quatro avos, sem direito à substitutos.
No meu tempo era assim e bastava.