Quando margeia não soneia e quando soneia não margeia

Hoje o som e as imagens da tevê são perfeitos. Chegou até a tevê digital. Fica, portanto, difícil para um jovem imaginar como era o som e a imagem da tevê no nosso interiornos anos 60 e 70, logo depois que a tevê chegou no sertão. Eram péssimos. E havia um chuvisco arretado. E assim mesmo o sinal só chegava graças a um técnico de rádio da terrinha que inventou e colocou uma antena no Cruzeiro. Quando conseguiram sintonizar o som e a imagem as pessoas diziam: "Quando margeia não soneia e quando soneia não margeia". Mas assim mesmo, com muita dificuldade, as pessoas assistiam à tevê. Era o tempo da novela "As pulilas do senhor reitor", de "O tem não apaga" e, claro, do "Direito de Nascer".

A minha primeira televisão foi uma Philips portátil comprada nas Casas José Araújo, tinha antena interna, mas eu colocava uns arames ligando na do rádio e enrolava com uns pedaços de Bom Bril eficava rodando o anel para sintonizar. Era um trabalhão. Era a tevê em preto e branco e que se assistia comn muito sacrifício.

Sempre fui uma negação em papo de eletrônixca. Um mobral total, não sei nem trocar uma lâmpada. E apesar de gostar muito de ler, sempre fui um sujeito ingênuo, mocó, abestalhado, tabacudo. Todo dia eu paticipava de um papo na pracinha da cidade à noite. Havia um sujeito falante que monopolizava o papo, metido a saberoto, dissertava sobre tudo no mundo e os bnestas so ouvindoe balanlçando a cabeça. Pois bem, certa noite ele, sabedor que eu era fã da Revolução Cubana, olhou para mim e disse sem mais aquela: "Olha, rapaz, depois da meia-noite, quando desligaram a antena da tevê, de repente, juro, apareceu a imagem de um comício arretadio em Cuba. Fidel Castro falando para o povo, e tudo colorido. Eu ainda quis ir te avisar para ligar a televisão, mas estava fazendo muito frio e caindo uma chuvinha e entõ desisti. Mas, acredite, foi uma beleza o comício e a imagem colorida, apesar do Comandante falar em espanhol dava para entender muito bem, não fiquei atéo fim porque,como você sabe, o cara fala mais de três horas". Confesso que acreditei no sujeito, e fiquei puto por ele não ter ido me avisar. Mas, apesar de ingênuo e abestalhado, fiquei cabreiro.

Eu morava petinho do cara que construiu a antena e que tomava conta dela, desligando à meia-noite. De manhãzinha fiquei tocaiando a saída do sujeito. Quando ele botou o pé fora de casa, eu o interpelei sobre o fato, contei o episódio e indafguei se era possível depois da antena ser desligada a tevê de Cuba entrar no ar e colorida. O cara começou a rir, gargalhar,embolava de tanto rir. Depsois ainda com lágrimas nos olhos de tanto rir disse: "Só você mesmopara acreditar numa coisa dessa. Bestão, no Brasil aiondanão existe tevê colorida e como seria possível pegar uma imagem colorida? E Cuba ainda não tem televisão. Vai ser otário assim no raio que o parta". E contou o fato em todo canto. Virei gozalção.

Hoje assisto à tevê, mas sem aquele frissson dos primeiros tempos, lá dentro,acreditem, ainda sinto saudade do tempo em que o povo dizia: "Quando margeia não soneia, e quando soneia nçao margeia". Eu acho que tenho saudade é do passado. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 31/03/2016
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