Lindo— ... — bonito e gostosão!
Rosa Pena
Aconteceu em janeiro no show "Carioca" do Chico Buarque no Canecão. Depois de sete anos ausente do palco ele voltou. O público cativo presente, mas agora acrescido de centenas de adolescentes que elegeram essa mistura de rei e menestrel o muso do verão.
Fiz minha reserva com bastante antecedência pra ficar na fila do gargarejo.
O dono dos olhos verdes- roucos entrou no palco debaixo de ovação, porém deixou na platéia quatro olhinhos arregalados, seus dois netinhos que foram pela primeira vez assistir um show do avô.
Chiquinho de dez anos e Clarinha de sete.
Chico tentou, em vão, cumprimentar o público, pois a nova geração feminina não se aquietou e resolveu fazer ola (onda humana) gritando: — Lindo, tesão, bonito e gostosão. A velha, geração que fique claro, até que tentou entrar nesse tsunami de euforia, mas os maridos e o bom senso barraram. O meu avisou baixinho:
Chico tentou, em vão, cumprimentar o público, pois a nova geração feminina não se aquietou e resolveu fazer ola (onda humana) gritando: — Lindo, tesão, bonito e gostosão. A velha, geração que fique claro, até que tentou entrar nesse tsunami de euforia, mas os maridos e o bom senso barraram. O meu avisou baixinho:
— Olha o tamanco!
Essa frase é um código familiar de longos anos. Vem dos tempos de criança, aprendemos com Dona Eulália, uma vizinha que toda vez que seu filho começava a falar besteiras ela mandava que ele colocasse um tamanco na boca. Ficou para nós. De vez em quando nós nos alertamos disfarçadamente. — Que tal um novo pisante? — Quem sabe um Dr. Scholl?
Como se a “ola” em delírio não bastasse para deixar o Chico vermelho, ele corado é ainda melhor, uma jovem de uns dezesseis anos subitamente subiu ao palco com uma “miniminissaia” e tentou dar-lhe um selinho.
Essa frase é um código familiar de longos anos. Vem dos tempos de criança, aprendemos com Dona Eulália, uma vizinha que toda vez que seu filho começava a falar besteiras ela mandava que ele colocasse um tamanco na boca. Ficou para nós. De vez em quando nós nos alertamos disfarçadamente. — Que tal um novo pisante? — Quem sabe um Dr. Scholl?
Como se a “ola” em delírio não bastasse para deixar o Chico vermelho, ele corado é ainda melhor, uma jovem de uns dezesseis anos subitamente subiu ao palco com uma “miniminissaia” e tentou dar-lhe um selinho.
Que ódio! Não pelo fato.Foi inveja mesmo.
Quando ela desceu a calcinha apareceu, donde se conclui que quando subiu o Chico viu!
Na tentativa de imitar a jovem, Clarinha Buarque resolveu subir. Ele sorriu para ela e com um aceno gentil fez que não! Para justificar disse no microfone:
— Vovô viu a vulva!
O público riu e finalmente se aquietou. O lindo, bonito e gostosão (tesão ele pediu para não dizer) - conseguiu começar o show. Foi bárbaro! "Chico Buarque não existe, é pura ficção" — como afirma Ruy Guerra.
No final, depois de aplausos ininterruptos, veio a hora do bis. Recomeçou o burburinho da mulherada já em volta do palco. Canta essa, canta aquela e eu com a alma à deriva, louquinha da pena falei bem alto:
Viva “A volta do malandro”. Ele sem saber donde vinha àquela voz, abriu um sorriso e respondeu de forma geral: —Ele nunca partiu!
Orgasmei de felicidade por conta dessa cumplicidade (unilateral, mas num deixa de ser) de segundos.
Quando ela desceu a calcinha apareceu, donde se conclui que quando subiu o Chico viu!
Na tentativa de imitar a jovem, Clarinha Buarque resolveu subir. Ele sorriu para ela e com um aceno gentil fez que não! Para justificar disse no microfone:
— Vovô viu a vulva!
O público riu e finalmente se aquietou. O lindo, bonito e gostosão (tesão ele pediu para não dizer) - conseguiu começar o show. Foi bárbaro! "Chico Buarque não existe, é pura ficção" — como afirma Ruy Guerra.
No final, depois de aplausos ininterruptos, veio a hora do bis. Recomeçou o burburinho da mulherada já em volta do palco. Canta essa, canta aquela e eu com a alma à deriva, louquinha da pena falei bem alto:
Viva “A volta do malandro”. Ele sem saber donde vinha àquela voz, abriu um sorriso e respondeu de forma geral: —Ele nunca partiu!
Orgasmei de felicidade por conta dessa cumplicidade (unilateral, mas num deixa de ser) de segundos.
Sai toda prosa com a minha coragem, mas temerosa com o que viria. Pra disfarçar, entrei no carro cantarolando "Lenço no Pescoço” do Wilson Batista, que foi a inspiração do malandro do Chico:" Meu chapéu do lado — Tamancooooooooooo arrastando — Provoco e desafio — Eu tenho orgulho, em ser tão vadio”.
Meu marido caiu na gargalhada e disse baixinho: —Vem minha menina vadia, mas vem sem fantasia.
Fui pelada! Esse Chico sempre rende muitíssima inspiração. Antes que você me peça detalhes do meu fim de noite, um aviso:
— Seu tamanco está embaixo do seu micro.
“No Canecão, num show de Chico Buarque, no Rio de Janeiro, fãs “gritam “tesãooooo”. Chico falou para acalmar a platéia: -Tesão agora não. Olha os meusnetos na platéia. Vovô viu a vulva!Depois, corou de vergonha”. (O Globo 16/01/2007)