Aos admiradores da noite
De um chocolate meio amargo e um café bem doce, surgiu a crônica de hoje. Um tanto quanto poética, tenho de confessar, mas o motivo é nobre. Antes de ir ao assunto, tenho de contar que meu primeiro emprego, era de vigia noturno. Para quem não sabe, um vigia noturno, geralmente, usa apenas uma lanterna e um telefone. Não cabe aos vigias prenderem ninguém, apenas chamar a polícia.
A palavra noturno não dá erro ao acaso, necessariamente, eu trabalhava à noite. Muitos achariam ruim. Eu adorava. Aliás, tenho de deixar uma pergunta: Você já se sentiu pequeno? Insignificante perante a imensidão de um céu estrelado? Então, se não teve a oportunidade, saia agora do seu quarto e olhe para o céu. Se você tiver sorte e o tempo colaborar, você verá um punhado de luzes pequenas num céu gigantesco. Pare um tempo e pense o quão gigante elas na verdade são, e você verá do que eu falo.
Mas a noite e suas reflexões, vinham a mim, sempre acompanhadas pelo sonhos. Os sonhos de um jovem que queria ganhar o mundo. Viajar, conhecer outros lugares, escrever minhas histórias, ver que as pessoas gostam do que eu adoro fazer. Era tão magico, os olhos brilhando, ao mero observar das pequenas luzes do céu. Aqueles olhos escondiam um montante gigantesco de sonhos, muito bem guardados por mim.
Algum tempo depois, não mais naquele emprego, percebo que boa parte daqueles sonhos ainda existem. Poucos foram realizados, muitos continuam guardados. Esperando o momento de deixarem de serem meras vontades, e se tornarem realidade absoluta.
Outros, no entanto, acabaram por se realizar de forma bem simples. Como o prazer de ouvir pela primeira vez de um desconhecido, que o que eu adorava e adoro fazer, agradava-lhe. Isso te enche de orgulho. Dentre tantos e tão pouco tempo que temos, alguém parou para dizer: Parabéns. Essa sensação é incrível.
Agora, sei que continuo um pouco longe da Londres que um dia sonhei visitar, ou dos livros publicados, que me fariam ser notado pelas pessoas. Mas mesmo assim, eles continuam lá. Sonhos guardados não pagam aluguel. Podem ficar la o quanto quiserem até o momento em que deixarão de ser sonhos e se tornaram lembranças. Um dia. Eu posso esperar.