ÚTERO IMAGINÁRIO

Tem dias em que nos sentimos estranhos, sem vislumbrar causa aparente. São dias que parecem estagnados, onde nada circula ao nosso redor. Ou, talvez, circule e a gente é que se sente em meio a uma roda viva, mas sem tomar parte do momento ou das situações externas. Como se estivéssemos dentro de um furacão, protegidos por uma bolha que amortece os baques e filtra as sensações. A única sensação que fica é de estranheza, de estar mas não sentir o lugar, como se um sonho estranho pintasse tudo à nossa volta, mas deixasse incolor o espaço que ocupamos.
Não se sabe o que é. Não conseguimos verbalizar. Apenas nos sentimos flutuar num déjà vu, monotonamente colocado entre o sonho e a realidade. Estranhamente nosso corpo fica leve, como se a gravidade perdesse força, a exemplo dos astronautas numa nave, em pleno espaço sideral.
É bom? Não é? Eu não sei definir. Mas esses momentos me ocorrem vez ou outra e me sinto freada, dormente, sem vida. E a vontade de ficar ali, na bolha, na nave, protegida e passiva é um canto de sereia. E como tal, perigoso! Corre-se o risco de buscar esse útero imaginário para fugir das situações problemáticas da vida...
                             Giustina
(imagem Google)
Giustina
Enviado por Giustina em 28/03/2016
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