VIROU NOTÍCIA DE JORNAL
Virou notícia de jornal, a vendedora de churros.
Hoje, querer prosperar com esforço próprio é, realmente, algo a se materializar em edições jornalísticas. Admirada fiquei ao ver aquela mulher, uma verdadeira senhora, em cuja boca lhe faltavam alguns dentes, lutando para realizar o sonho de estudar e “ser alguém”.
Vende churros na rodoviária de Brasília. Trabalha do alvorecer ao sol se pôr. Acabando o expediente, corre para Faculdade (particular). Mantém os filhos (não sei bem se dois ou três) em escolas também particulares, cursando o Ensino Médio.
Para manter casa e filhos estudando, sai o sustento dos churros, que vende freneticamente na rodoviária do Planalto Central. Não questiono o fato de estudarem em escolas particulares. Motivos há, certamente.
Ali, ao lado do carrinho de churros, o Vade Mecum de Direito. Abre-o nas pequenas oportunidades em que lhe faltam clientes. “Vou vencer”, diz com convicção. “Ainda serei alguém e não vou parar por aí, pretendo ser grande jurista”.
Os pés sustentam seu corpo cansado da luta diária, as mãos são ágeis no preparo do quitute açucarado, olhos vivos em torno do ganha-pão. Em casa, os filhos. Eles não serão massa de manobra, tampouco farão massa de churros para subsistência.
Um olho no freguês outro no Vade Mecum. Um olho no presente outro no futuro. Um olho nos filhos outro na própria dignidade.
Não, ela não precisa de piedade, tampouco de falsas ajudas. Luta sozinha.
Ali, ao lado, a fonte de onde tira o saber e com ele prepara o momento de jogar o chapéu para o alto. Ali, o livro.
Ela não sabe que já é “alguém”. Ergue-se, faz sua reinserção na vida anteriormente prejudicada e qualifica-se para o mercado de trabalho. Importante: Sozinha e sem manipuladores políticos. Ela folheia livros, ela os manipula.