Sobre as fases
Às vezes até penso que tudo poderia acontecer de uma vez. Pois, para quê horas, dias, meses e anos? Para quê manhã, tarde e noite?
Seria muito mais fácil viver sem a ansiedade de tantos momentos e atos que vêm gradualmente... gradualmente, nos fazendo esperar.
Colocar tanta expectativa em tudo! A sensação de colocar tanta expectativa em tudo e sentir que menos as coisas dão certo é lúcida e às vezes chega a beliscar nossas vistas. Mesmo assim, insistimos... e como insistimos em colocar tanta expectativa e esperar.
Mas também é possível ver grande positividade em tantas divisões de tempo e momentos, pois todas essas transições servem para crescermos e sermos modificados.
Basta observar o começo ruim de uma manhã, cuja a noite foi temerosa. A tarde leva aquele ranço, os instantes maléficos e os suspiros ardentes do descontentamento, e é quase certo que a noite traga a serenidade, ou a outra manhã, pois nenhum sofrimento é eterno.
Para isso, existem as tempestades e as calmarias, porque a natureza precisa ter a sensação de que aconteceram mudanças.
Uma coruja não canta em uma chuva forte, nem os pardais cantam perante uma tormenta.
E o que dizer das cigarras? Com toda a maestria anunciam o dia seguinte: - Vocês já podem voltar a viver, há uma nova chance, um novo raiar, um novo momento!
Porém, após isso, simplesmente morrem. Vivem apenas para avisarem sobre a vida e depois viram o silêncio de mais um momento.
Alguns corações amam e depois nunca mais conseguem. Outros demoram mais, e outros ainda, jamais chegarão a amar. São como as cigarras; são como as fases; são como a vida.
A eternidade está dentro de cada ser que respira e em suas lembranças. Não se pode simplesmente culpar o tempo por tudo ou o tudo ser o tempo. Não se pode dizer que os traumas são culpa do tempo, pois trauma é passado, passado é página virada e página virada é mais uma fase que se foi.
Se a página virada ainda fala no presente, então é sinal que alguém esqueceu de retirar o marcador de páginas, e a mudança que precisa ocorrer está ali, gritando para ser liberta.