O mundo dos outros
 
É engraçado como a maturidade exigida nos comportamentos está quase sempre em desacordo com as vontades individuais. Seja na hipocrisia americana “do faça a coisa certa” ou na mais brasileira do “politicamente correto”, aumenta-se os graus de insatisfação individuais para não parecer deslocado; sendo visto como uma espécie marginal nos manuais que definem as coisas como aceitáveis em qualquer círculo “civilizado”, mesmo que cada uma das pessoas carregue consigo cargas negativas das coisas de que abre mão. Aí, nos grupos fechados com objetivos que necessitem que essas pessoas estejam juntas trabalhando para alcança-los, surgem “não se sabe de onde” tantos percalços que as organizações, acabam por usar as tais características individuais, que na verdade são anomalias psicológicas, como instrumento de produtividade e, mais objetiva do que seus doentes componentes no quesito pragmatismo conveniente, se utiliza de outras palavras como denominações condescendentes de personalidades distorcidas enquanto pode para fazer valer os fins, cujo meios não interessam. Isso se intensificou e se solidificou a tal ponto, nas empresas, por exemplo, que qualquer “vacilo” do indivíduo que evidencie uma individualidade fora do padrão é tratada como a exceção que merece atenção, num patrulhamento incansável e numa escala que vai do subliminar à exclusão. As empresas, mesmo vilãs, ainda possuem um objetivo nobre de querer produzir algo, porém em outros tipos de ajuntamentos sociais de viés menos material, incrivelmente, observa-se as mesmas mazelas. Por essa razão, sempre que vejo alguém mais arredio a círculos lembro do quanto há motivos para esse isolamento. Muitas vezes são traumas por já ter lidado com isso tudo e estar exausto do faz de conta pra pagar as contas. Não seria então espontaneamente e sem a exigência da sobrevivência que cederia sua alma pela hipocrisia de ter companhia; pela ilusão; pela heresia de se enganar vivendo falsos momentos. O lamentável é que isso acontece com a sua própria conivência submissa que o sistema oferece ou por outra, o indivíduo tem que ser economicamente independente para praticar autenticidades confortáveis quase eliminando as saídas honrosas que precisava ter dentro do sistema para minimizar os efeitos das suas originalidades.