Em Um Passado Não Tão Distante...
Sendo poeta perscruto minha própria alma, estranha alma, que se esconde na sombra dos transeuntes que por necessidades do destino se viram em obrigação de caminhar comigo nas estradas da vida.

Ao luar ensaiei verdades ávidas de serem vistas, sempre surgem como novidades, mas de repente vejo que são sempre as mesmas; todas elas dão forma a uma única verdade, que de maneira alguma é ignorada. Chego uma vez mais ao limiar de me calar ou tornar-me repetitiva ao constatar e assumir o opróbrio que me cobre como casca infecciosa.

Um tanto considerável desta casca foi retirada, algumas feridas curadas, outras untadas e desinfetadas com o sal de minhas próprias lágrimas, contudo percebo que as dores mais fáceis de serem tratadas são as que gritam primeiro, como fossem apenas a trava dos olhos, ou as ataduras que se aderiram na ferida que superficialmente cicatrizou.

Esta escrita fere a compreensão de alguns que venham a ler, outros, sei que matutarão em busca de significados; arrisco dizer que um ou dois hão de entender e talvez me assistirem em mais um capítulo platônico de minha sina; o fato é que me vali de inúmeras linhas exatamente como quem procura uma forma menos dolorosa de confessar que é culpado, infinitamente culpado.

Irônicas são as voltas do mundo, que nos fazem ser todo o corpo de júri, e por mais orgulhoso seja o homem, ele somente tona-se justo juiz quando o ultimo lugar que assume é o de réu.

Compreendo melhor hoje alguns irmãos que se debatem no charco da sarjeta enquanto outros fazem monopólio de suas glorias e engazopam valendo-se delas.

Não sei como prosseguir, não sei se é correto ter o espirito consternado por motivos estranhos e que, não queiram entender, sugam minhas reservas como parasita a beber de minha medula.

Contudo, resolvi assumir esta posição de réu. E ao invés de debater-me na sarjeta, agradeço aos embustes que carregam minhas supostas glórias e fico com a pérfida parte que todos descartam; com as dores que são rebuscadas por ilustre essência; com a vergonha e toda a sorte de erros, não para que tenha méritos ou coisa do tipo, não para salvar a humanidade ou coisa do tipo, sou um grão em vasto deserto, por hora todo o bem feito a mim, somente a mim há de me servir, levará bom tempo para que se propague por todos os seres, então cultivo a compaixão por mim mesmo, para que possa amar o próximo com excelência, pois neste exato momento amar o próximo como me amo seria um tremendo pecado.

Fico com as partes delegadas para que a dor seja sanada; erros e vergonhas perdoados e assim as glorias não sejam mais motriz de ambições e a essência desprendida não seja fascinação, mais uma vez me faço vaso nas mãos do oleiro; mais uma vez quebrado em mil partes; mais uma vez a água e o fogo do concerto e assim será até que seja vaso perfeito, receptáculo de puro óleo...

Então, mais uma vez a arte em cura será usada; se valerá a pena eu não sei, mas é o que tenho no momento. E para quem não entendeu, não precisa, neste caso não há necessidade da compreensão do primeiro nível das mentes... É mais profundo.
THORESERC
14/04/2009 򵒗18 (777)
Noah Aaron Thoreserc
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 26/03/2016
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