O SERVO

Uma ideia peregrina! Já ouviram essa expressão: “ideia peregrina”? Peregrina porque fica andando, andando, dá uma volta, retorna e continua andando. Ideia peregrina é isso: fica rodeando em torno e não vai embora. É muito estranha ou desapropriada. Lá vai. Vou contar uma ideia peregrina.

“Soldado” faz lembrar a palavra “militar”. Essa não é a palavra adequada para a ocasião. Se não for “soldado”, o que poderá ser? Escravo? Não. Escravo lembra escravidão, cativeiro, sujeição, falta de liberdade. Não é isso. Servo? É. Talvez. Um servo presta serviço a outro, sem condição de escravidão; como um criado, um servente ou um serviçal. Então está certo: um servo para servir, auxiliar, ajudar.

Médicos, dentistas, enfermeiros, professores, cabeleireiros, manicures prestam serviços à comunidade carente sem cobrar-lhes por isso. São magnânimos em generosidade. Muitos outros querem revelar a bondade existente dentro de si. Como? Já pensaram e repensaram. Chegaram numa triste conclusão: nada sabem fazer para ajudar o próximo.

São cidadãos comuns que trabalham, estudam, pagam seus impostos, convivem em sociedade, mas ajudam em quê? Em nada! Não deve ser assim, pois se torna uma vida vazia, oca, inútil.

Acalmem-se. Tudo tem solução. Podem transformá-la numa vida valorosa, importante, necessária, com pequenos gestos caseiros e comunitários:

- Que tal encher o filtro de água após utilizá-lo, para quem vier depois, poder saciar sua sede?

- Que tal fechar o pote da bolacha após consumi-la a fim de que as pessoas que venham depois de você não encontrem bolacha amolecida?

- Que tal despejar os restos do cinzeiro no lixo, quando terminar de fumar?

- Que tal não atirar lixo pela janela do carro?

- Que tal respeitar as regras de trânsito como velocidade máxima permitida, ultrapassagens, não dirigir após ingerir bebida alcoólica, etc.?

- Que tal ceder um espaço no trânsito, para o outro poder estacionar?

- Que tal não estacionar nos locais assinalados para idosos/deficientes?

- Que tal recolher o carrinho de compras do supermercado, guardando-o junto com os outros, não o deixando atirado pelo estacionamento?

- Que tal recolher as fezes do seu cão ao sair para passear com ele?

- Que tal não jogar lixo na rua para não entupir os bueiros nem sujar as calçadas?

- Que tal ser gentil com a garota da lanchonete, ser amável com a menina do caixa, ser cortês com o porteiro, ser educado com o jornaleiro?

- Que tal ter atitudes amigáveis com seus vizinhos?

- Que tal ser delicado para com os familiares e com as outras pessoas da comunidade?

- Que tal respeitar aos mais velhos?

- Que tal meditarmos mais sobre as nossas regras de conduta? Como está nossa moral, nossa ética, nossos valores?

- Que tal transformar nossos hábitos fúteis, frívolos e sem valor, em importantes, fundamentais e necessários?

- Que tal ser solícito, voluntário, benemérito e filantrópico?

- Que tal ser instrumento de paz?

- Que tal aumentar o amor, o perdão e a união e diminuir o ódio, a ofensa e a discórdia?

- Que tal viver na verdade, na esperança e na alegria, dispensando a dúvida, o erro e o desespero?

- Que tal transmitir alegria e luz ao invés de tristeza e treva?

- Que tal consolar, compreender, amar e sem amado?

- Que tal aumentar o amor e diminuir o rancor?

- Que tal ter compaixão, piedade, misericórdia para com o outro?

- Que tal diminuir a carranca e aumentar a gargalhada?

- Que tal levar seu sorriso contagiante aos outros, como um afago de uma mão amiga?

- Que tal cair de joelhos ao chão e pedir humildade, tolerância e paz?

- Que tal cair de joelhos ao chão e AGRADECER?

Essas e outras atitudes podem não mudar o mundo, mas se todos a praticarem, certamente tornarão suas vidas úteis, indispensáveis e imprescindíveis.

Simone Possas Fontana

(escritora gaúcha de Rio Grande-RS,

membro da Academia de Letras do Brasil/MS, ocupando a cadeira 18,

membro correspondente da Academia Riograndina de Letras,

membro da UBE/MS – União Brasileira de Escritores,

autora dos livros MOSAICO, A MULHER QUE RI e PCC,

graduada em Letras pela UCDB,

contista da Revista Cultura do Mundo,

blog: simonepossasfontana.wordpress.com)