Nem tudo é o que parece
Naquela rua ecoou um grito alto, era perigoso andar por lá, principalmente durante a noite. Pobre infeliz que se atreveu desobedecer a lei infame. O grito persistia e todas as casas acenderam as luzes na tentativa de visualizar o que acontecia ali. O acender das luzes afugentou o causador dos gritos, ninguém aparecia, somente a virgem ensanguentada ao chão.
O socorro chegou dos vizinhos mais próximos e posteriormente os fofoqueiros de plantão tomaram a rua. Tomada pelo pânico a pobre menina quase não conseguia dizer o que acontecia. Nessa altura, os fofoqueiros espalhavam que a pobre tinha sido desvirginada por um depravado, que a agarrou, abusou e fugiu antes da patrulha chegar... Aliás, a patrulha nem saiu do lugar! Dias antes, o prefeito decretou falha na segurança da cidade por falta de abastecimento das patrulhinhas... Outro absurdo!
Sorte do prefeito não ter demitido o coveiro da cidadezinha, senão quem haveria de abrir na terra a morada da excelência?
“- Ora pois, não souberam vocês que o Chico Tiro ao Alvo alvejou o prefeito com uma bala de prata bem na fuça do infeliz?”
Mal sabiam as fofoqueiras que a viúva estava à postos e ouvia todo o mexerico, rindo por as “maricotas” não saberem que foi ela mesma, mulher do Jeca Mais Malandro – o prefeito -, quem encomendou a morte do marido pra ficar com a herança do maldito. A infeliz só esqueceu que terá de dividir a fortuna com o Sr. Zé da Venda, irmão de Jeca Mais Malandro, e Maria Lavadeira, Mãe de Luna Inocente, a virgem do início da história, que só foi mordida por um cachorro maluco e, pobre, não sabia da infelicidade de menstruar justamente na hora da mordida.