Mini-Folhetim - Tertúlia Literária - II

Geraldinho do Correio, um grande conhecedor da literatura, entrou no debate:

- Com licença, doutor, mas daqui a pouco o senhor vai evoluir e apontar a Lenita, personagem de "A Carne", de Júlio Ribeiro, como um dos principais personagens da lieratura.

- Taí, rapaz,éla é mesmo um grande personagem. Você quer dizer a mim, um macaco velho nesse treco de paixões da juventude, que nunca sentiu tesão por Lenita, a grande professora dos nossos primeiros alumbramentos sexuais? Confesse, Geraldinho, desculpem outra vez senhoras, perdão padre, mas como todos nós, rapaz, você fez calos na mão comendo Lenita. Por que ela não seria , portanto, um personagem marcante?

O padre disfarçando o riso, Geraldinho baixara a cabeça rendido à evidência, folheando a brochura de Gilvan Lemos, o autor pernambucano que futuramente seria um dos grandes nomes da literatura nacional, tomou um gole de vinho, botou uma colherada de vatapá na boca, degustou e disse:

- Pois eu acho que Capitu é mesmo a grande personagem da lieratura nacional, aquela dúvida que o "Bruxo de Cosme Velho" transfere para o leitor, se ela prevaricou ou não com Escobar, é sensacuional, a gente fica na dúvida para sempre. Há também outros personagens maravilhosos como Sinhá Vitória e Fabiano de "Vidas Secas", o Capitão Vitorino e "Fogo Morto" e, evidentemente, Policarpo Quaresma, Clara dos Anjos e Isaias Caminha dos romances do grande Lima Barreto - virou-se para Francisquinho - E você, camarada Francisquinho, não vai se pronunciar?

O seresteiro que gostava muito de ler falou:

- Fico com Paulo Honório de "São Berbardo" e o Luis de Silva, de "Angústia". De Jorge Amado gosto do Antonio Balduíno, também gosto dos personagens de Lima Barreto, mas para mim o melhor escritor do país é mesmoo velho Graça.

O padre pediuentão a opinião de Dalva Costa, ela era arriada por literatura.

- Concordo com o juiz. Os grandes personagens da nossa literatura estão mesmo nos romances de Jorge Amado. Concordo também que a Lenaaita de A Carne" é um grande personagem. Por que discriminá-la se fez tanto sucesso? Por qwue não reconhecer de viva voz aquilo que reconhecemos na solidão da leitura? A sensualidade é indispensável no texto literário. Vejam o caso de Machado de Assis, ele não é explícito e direto como o baiano, mas insinua extraordinariamente a sensualidade. Ele era vidrado em braços, colos,decotes, é maravilhosa a maneira como ele descrevia esse tipo de coisa, digo a sensualidade, certo? Capitu é fascinante. Padre, me desculpe, masnão gosto do termo prevaricou, ela mijou mesmo fora do caco, traiu Bentinho, o marido; o escritor quis que o leitor optasse por essa alternativa. H´´a um conto dele sobre o Natal que é lindo, ele só faltou fazer com que os persoanagens fossem para a cama. Graciliiano apesar de escrever bem pra cacete, é mesmo seco,triste, sem humor. Bem, pelo menos para mim quenão tenho qualquer pretensão intelectual, prefiro os personagens de Jorge Amado, aquele seu universo de malandros,vagabundos, putas, aquele mundo vibrante dos livros dele. Parece que a gente tá vendo a vida em ebulição, a alegriano ar, asensualidade... Lmbro ainda da "Moreninha" de Joaquim Manoel de Macedo, o doutor Macedinho comno o chamavam no seu tempo, releio sempre esse livro. Quer personagem a "Moreninha!".

Francisquinho divergiu das críticas dela a Graciliano:

- Assim nao tem jeito, Dalva. Se até você que é um quadro do partido, ataca a obra de Graciliano, avalie a reação.

O juiz saiuem defesa de Dalva, sempre de olho no derriére" dela.

- Que é isso, Francisquinho? Jorge Amado é também comunista de carteirinha. Foi até deputado constituinte pelo PCB. Escreveu "Os Subterrâneos da Liberdade", um painel arretado da luta dos comunistas nos temposdo Estado Novo. A obra de Jorge Amado tem conotação socialista. E qualidade literária. Dalva tem o direito de opinar, companheiro; quer como militante socialista e, sobretudo, como leitora. Você está muito radical.

Francisquinho voltou à carga:

- Doutor, vamos falar francamente, a literatura de Jorge Amado realmente diverte e prende aatenção, mas não possui a qualidade e a substância da de Graciliano, este sim, um grande estilista.

O padre não agentou, fechou o romance de Gilvan Lemos, tomou o resto do copo de vinho, era o quinto que tomava, e disse:

- Camarada, Chico, você está precisando fazer um tratamento para curar esse seu sectarismo. Estilista, Graciliano é sim, mas Jorge Amado está no mesmo nível, é um gransde escritor, não há por que subestimar a sua obra. Em literatura o importante é a essência do texto e não a ideologia do autor, se bem que os dis citados sejam socialistas. Aliás, a bem da verdade, não há motivo para descartar a preferência dos leitores. Lembro que Jorge Amado, além da trilogia citada, escreveu também "O Cavaleiro da Esperança", um livro sobre a vida do líder dos comunistas, Luiz Carlos Prestes.

- Continua -

P.S. Pois é, agora mesmo o meuneto que digita estes textos me disse que sou um véio doido que fala de coisas que ningupem quer saber. alvez ela tenha razão,devriaestar comentando sobre a situação do país,mas sou teimoso. Abraço.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 22/03/2016
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