O QUE O TEMPO TRAZ

O QUE O TEMPO TRAZ

A noite mal caíra, e já podia se observar o ajuntamento dos meninos que na maior algazarra se agrupavam sob a velha mangubeira com suas flores de um perfume adocicado. Palú, o irmão caçula do pastor Manuel Macedo, trazia em uma das mãos, uma latinha enferrujada e na outra um punhado de farinha, que a um movimento rápido, era jogado à boca, sem que um caroço si quer, caísse ao chão.

O pequeno artefato de lata, era o que todos aguardavam para iniciar a brincadeira do *salve latinha. Passava-se a pedra, para saber quem iria fazer a caçada, o restante procuraria um esconderijo. Me recordo quando era a minha vez de ficar para a criteriosa busca... ficava de costas e contava até cinquenta, era nesse momento , que me lembrava o quanto era infindo aquele número, imaginava ser difícil alguém chegar a essa idade com os prazeres que a vida oferece.

Passaram-se os dias e voltei a pensar, sobre o que achava do tempo... vi lá fora, crianças sorrindo, pulando e correndo na rua. Imaginei o que devem pensar a respeito dos anos, pois ouvi um deles, com a cabeça encostada em uma árvore, tendo um dos braços como proteção à testa, da sua casca grossa, contando de costas para os outros. Batia o pé no chão, num claro sinal de impaciência, por não terminar nunca aquela contagem.

Hoje percebo o engano da puerilidade. Nem tinha me dado conta de que os números adicionados no nosso calendário, nos torna melhores e nos dão muito mais prazer. Passei dos cinquenta e não tive tempo pra pensar no que seria triste ou frustrante os efeitos que a idade traria, pois não tive tempo pra essas coisas, aproveitei para sorrir, viver e amar.

O tempo nos deixa mais fortes, mais confiantes, vestidos de responsabilidades e amadurece as nossas mentes e as nossas almas. Nos enriquece o espirito e nos traz a sabedoria; nos torna tolerantes e generosos. Passamos ver a vida com os olhos da bondade e da beleza, valorizamos mais as pessoas, que as coisas, desvendamos a real beleza interior, que a superficialidade, saboreamos com o mesmo prazer do doce, os amargos, os salgados e os azedos; experimentamos as novas amizades em qualquer idade com afeto, dedicação e sem discriminação.

É bem verdade que selecionamos com quem queremos dividir nossos melhores momentos, porém, essa é a fórmula mágica para abastecer o coração de amor, com os que nos são mais caros... afinal de contas, é o encontro e a comunhão, o combustível da amizade.

Professor George Paulo.

GEORGE PAULO
Enviado por GEORGE PAULO em 22/03/2016
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