Assim ou ...nem tanto 37
O Santo
Enorme era a imagem do santo, quatro metros de altura, rosto baselitziano aberto a rudes golpes de formão e goiva, pintado com tinta espessa a substituir estofo e sem subtilezas por serem as imagens representações dos modelos celestiais e nunca alvo das idolatrias com que as distinguem. Olhava para nenhures o santo e todo ele descia em veludos, rendas e pregas até rasar o altar em que pontificava, entre flores e velas, apelos e lágrimas, promessas de tantos devotos que o encarregavam de negócios e casamentos, de futuros improváveis. E a imagem, de olhos distantes, coração indiferente, era uma cabeça sem expressão montada no alto inacessível das vestes. De todo o Concelho vinham para visita-lo, tamanha fama de milagreiro tinha, talvez em função do tamanho, outro maior não havia… E ali estava mono e gigante, à esquerda de quem entrasse na Matriz, a dois passos da pia de pedra onde luzia um resto de água benta.
As cinco mulheres esperavam que saíssem os da excursão. Segredavam entre si e riam mais do que convinha a tão bento lugar tapando a boca com as mãos ou as mantilhas, até que, livres de observadores, avançaram decididas para o altar e a mais afoita, com a ponta do guarda-chuva, ergueu a saia à estátua na expectativa frustrada de poder ver, a condizer em tamanho, o documento do santo, ali tão varão e másculo. E todas espreitaram, ruborizadas de emoção, para o que, afinal, não havia. Sob a rude serenidade do santo estava, ainda por desbravar, o tronco de uma árvore. E saíram da igreja rindo à gargalhada.