Notícias da capital do país
Pedem-me notícias de Brasília, quem sabe uma informação privilegiada, o testemunho de quem vive no coração político do país, e que, portanto, deve saber melhor do que ninguém o que está acontecendo no Brasil nesses tempos de crise. E querem também um posicionamento, reconhecem que está todo mundo perdido e sem saber o que pensar, e imaginam que alguém que mora na capital do país está mais capacitado a avaliar o tumultuado cenário que tomou conta dos jornais nos últimos dias. Todos sentenciam gravemente: “Brasília está pegando fogo!”. E eu me sinto até um pouco envergonhado, porque mesmo morando aqui eu não tive ultimamente nenhuma alteração na minha rotina. Tenho, no entanto, algumas notícias para dar, mas receio que não sejam exatamente aquelas que esperam. Nem por isso elas deixam de me afetar, e sobre estas, sim, eu me sinto capaz de me posicionar.
Para começar, devo avisá-los que o outono chegou a Brasília uma semana antes do esperado. Pude senti-lo na manhã da última quinta-feira: o sol estava mais ameno, deixando grandes porções de sombra, um vento que ninguém mais lembrava que existia começou a bagunçar os cabelos e derrubar as folhas de árvores que eu não sei o nome. Tudo isso aconteceu meio rápido, e se não tivesse saído do celular eu sequer teria percebido. Ao meio-dia já não havia sinal de outono, mas eu fiquei feliz ao saber que não existe só estação das secas e das chuvas por aqui.
Também nesta semana alguém cortou o galho de uma ameixeira que vinha impedindo a travessia em uma calçada no caminho da minha casa. A árvore foi plantada próximo à cerca de uma casa que hoje está abandonada. Sem ninguém para cuidar, os galhos atravessaram a cerca e atingiram a calçada. Vamos ver quanto tempo irá levar até que alguém precise apará-la novamente. A ameixeira é uma árvore que eu conheço porque minha mãe me ensinou, na infância, a fazer cata-ventos com as suas folhas.
Ah, não sei se vocês se lembram daquele meu vizinho que acordava às cinco da manhã e que foi embora depois que foi demitido. Pois ele voltou, está aqui outra vez morando em um dos quartinhos. Ele havia voltado ao Rio de Janeiro, mas continuava sem emprego. Aí um dia alguém aqui de Brasília ligou para ele, ofereceu uma vaga e ele voltou, porque precisava trabalhar, independente do lugar. Mas eu tenho notado que agora ele está mais triste, desanimado, bem diferente do ano passado. De certo não queria estar morando aqui, mas precisa. Ele nem mesmo tem acordado tão cedo mais. Eu, pelo menos, não escuto.
Esses dias eu fui a um cinema bem legal aqui em Brasília, que exibe filmes que estão fora do grande circuito. Acho que nunca tem muita gente assistindo. Uma vez eu fui lá e só havia mais um cara além de mim. E a gente ficou lá assistindo um filme sobre os curiosos ritos fúnebres de uma aldeia na Ucrânia. Tinha um filme da Islândia que eu queria ver, mas não está mais em cartaz. Agora está tendo uma mostra de documentários americanos. Os filmes que passam lá são bem estranhos. Devo admitir que, em matéria de criatividade, eles não se comparam ao noticiário tradicional que Brasília envia, todos os dias, ao restante do país. São, todavia, muito mais bonitos.