Folhetim - Três Noites de Paixão - V - Final

Depois ficaram na cama abraçados durante algum tempo, calados, olhando um para o outro, se acariciando; de vez em quando riam satisfeitos. Ela levantou-se e vestiu o robe de algodão, abriu uma maleta e retirou um maço decigarros, acendeu um, deu uma tragada e disse divertida: "Pois é, Seu André, eu fumo escondido, faço uma porção de coisas proibidas, sabe?" Ele não fez nenhum comentário, apenas vestiu o calçao e apenhou as folhas da monografia que estavam no chão, ordenou-as e colocou em cima do birô. Depsois voltou e ficou sentado na cama olhando para ela, se fartando de vê-la na intimidade, exatamente como nas suas fantasias. Ela disse, apontando para as folhas de papel que estavam em cima do birô: "Você saben o que contém nessas fiolhas de papel? É uma monografia que estou escrevendo sobre um escritor de Pesqueira, Zeferino Galvão. Nós fizemos amor em cima da descrição de algumas peripécias dos pesosonagens dele, talvez do Cadete Bonifácio ou dos nobres de Provença, ou mesmo dos episódios de sua luta contra os poderosos, acho que homenageamos condignamente o velho jornalista", riu gostoso. Depois pegou um disco e colocou numa pequena radiola. Era "Perfídia". Chamos André para dançar. Ela cantou baixinho no ouvido deleum pedaço da música ("Amei como ninguém te amoru querido...), mas não conseguiram dançar atéo fim da música, voltaramaa para a cama e fizeram amor outra vez e com a mesma paixão. Saciados, ela acendeu mais um cigarro e contou a ele que era muito difícil viver com as freiras, tivwera que se adaptar ao sistema delas. E fez uma confissão, revelou que estava ana cidade devidoa auma desilusão amorosa, gostara muito de um sujeito em Maceió, se entregara a ele, engravidara e o cara não quis casar com ela. Os pais ficaram tristes. A decepção deles lhe doeu muito, ela adoecera e abortara, culminando com uma depressão nervosa. A salvação fora a madre superiora que é irmão de seu pai, se apiedou se sua situação e a troxe para a cidade para vier e ensinar no colégio. Mas fizera aauma promessa a si própria, aos pais e à tia de nunca mais se apaixonar, chegou mesmo a usar roupas de velha,a adotar um comportamento quase de religiosa, mas aí ele, André, apareceu ameaçando a sua promessa. "Ah, comolutei contra o desejo", disse. E ainda acrescentou que se acreditasse em crendices diria que se tratava de "coisa feita". Disse que gostara do que aconteceu naquele momento, talvez o mais feliz de sua vida. "Mas não podemos levar isso adiante, não vamos nos iludir, eu não sou livre, nçao posso decepcionar outra vez meus pais e minha tia, não sou suficientemente forte para enfrentar outra provação. Compreenda, André, pelo amor de Deus, a minha situação. Eu lhe dei uma prova que gosto de você, eu conto com você, me abri com você, tivemos um ao outro,mas não podemosficar juntos. Entenda isso", ela concluiu. André ouviu calado o que ela disse,compreendeu suas as razões, o seu medo.Ficou triste mas não tinha direito de exigirdela uma atitude que ela não podia e nem queria tomar.

Ele esteve com ela mais duas vezes,no sábado e no domingo, as freiras sóvoltariam na segunda. Entrava escondido à noite, sentindo-se um ladrão, achava isso revoltante, mas o desejo era mais forte, era de fato uma despedida, precisava aproveitar ao máximo aqueles momentos.

No domingo, antes de se despedirem definitivamente, ele teve um acesso de raiva quando ela lhe disse que s fosse aprovada na sua tese do mestrado, iria embora da cidade. Num gesto de irreflexão ele jogou no chão a pasta com as folhas da mografia, as folhas se espalharam pelo chão. Ele se arrependeu quando a viu chorar, apanhou as folhas e, como da primeira vez, apeanhou tudo,ordenou-as e colocou na pasta em cima do birô. Depois aliseou os cabelos encaracolados dela, enxugousuas lágrimas, pediu desculpas. Ela então tiu e disse:"Pois é, André, apenas a memória do velho Zeferino e o cachorro do seu avô são as testemunhas do caso deamor".

Já era de madrugada quando se despediram, não havia ninguém narua,ela o acompanhou até o quital do colégio, onde havia umportão de saída, abraçaram-se, beijaram-se e ela lhe disse emopcionada: "Vá, André, não olhe para trás, atenda omeu pedido, quandobnosencontrarmos se porte como antes. É melhor assim". Ele olhou bem dentro dos olhos dela e disse: "Fique tranquila, eu não farei nada que possa prejudiá-la. Adeus".

E desapareceu no beco ainda escuro.

F I M

P.S. Agradeço aos meus queridos leitores que leram este acanhado folhetim. Acho que estou forçando a barra. A internet não comporta este tipo de escrito. Abraço.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 20/03/2016
Código do texto: T5579486
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