O MÉDICO ALEMÃO
Eu nunca soube o seu primeiro nome. Na verdade, sabíamos bem pouco a respeito desse médico alemão.
Dr. Werner morava em frente à nossa casa. Na vizinhança se falava que ele imigrara durante a Segunda Guerra Mundial, fugindo dos horrores da Alemanha conflagrada. Veio com sua esposa Doroty que todos chamavam de Dona Dodô. Não tinham filhos e nem parentes no Brasil, apenas um cachorrinho de nome Dunga, da raça Poodle, que trouxeram da Alemanha. Para mim era algo inusitado porque na cidadezinha do interior de Santa Catarina, onde morávamos, ninguém tinha um cão de raça, apenas vira-latas que ficavam no quintal. Uma coisa me chamava atenção: os cuidados excessivos que dedicavam a esse animal.
O alemão exercia a medicina em casa e sempre me pareceu, de forma ilegal. Mas, como naqueles tempos de minha infância, idos de 1950, um profissional dessa área era raro por aquelas paragens, Dr. Werner era muito bem vindo. Víamos que tinha inúmeros clientes.
Formavam um casal muito discreto. Quase não saíam de casa e pareciam evitar vida social. Na intimidade falavam somente a língua alemã, mas eram simpáticos com os vizinhos e muito bem educados. Eu nunca soube de que cidade vieram e nem se ele era realmente médico formado. As circunstâncias de sua vinda, particularmente para uma pequenina cidade do interior, eram, para mim, um enigma.
Minha mente infantil fantasiava que Dr. Werner tanto poderia ser um alemão comum fugindo das agruras da guerra, como um judeu que veio para salvar-se de um campo de concentração e da morte em câmara de gás. E ainda me passava pela cabeça que ele poderia ser um nazista, escondendo-se do Tribunal de Nuremberg.
Mudamos para Curitiba, onde vim terminar os estudos e o enigma do Dr. Werner ficou longo tempo esquecido. O casal já deve ter falecido, pois naquela época aparentava ter mais de 40 anos.
Nunca vou saber sua verdadeira história.