Uma opinião
Não fosse o muro alto e o portão fechado, quem passasse pela rua veria uma rede branca no terraço e dentro dela eu, finalmente com a paz necessária para ler os poemas encantadores de minha vizinha e amiga Nair Damasceno. Somos amigos, mas por sermos ambos introspectivos, só a via quando na via, mas não a via poeta. E assim se foram 17 inacreditáveis anos. Hoje, graças ao advento da internet, nos comunicamos por e-mail.
Os poemas a que me refiro estão no seu mais recente livro PEDAÇOS, lançado esta semana. Tempos atrás, quando li o seu primeiro livro foi uma agradável surpresa: gostei de todos os poemas ali publicados, coisa que nunca me acontecera, mesmo ao ler poetas consagrados. Os dez primeiros poemas que li até agora vão me levando à mesma impressão. Eis uma pequena amostra:
A Espera
Passei horas, minutos,
Toda uma vida
Com o rosto colado
Na vidraça do tempo
Como quem espera alguém chegar.
Dias, anos se passaram,
E com eles todas as estações:
Chuvas,
Folhas a cair,
Sol a brilhar,
Flores a brotar,
Meu rosto impassível
Continuava lá ...
Colado à vidraça.
A vidraça embaçou,
Envelheceu com o tempo.
Tardiamente descobri
Que o que eu vivi a esperar
Do outro lado da vidraça
Estava do lado de cá ...
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Nair Damasceno também faz parte do nosso Recanto das Letras.