atrás do Morro há sempre um sol, Princípio

 
Lá fora o sol queima com sua quentura de frio tropical – friagem nas Minas.
Ele invade as vidraças da janela.
 
Foi assim também naqueles seis do seis de setenta e seis – cabalístico, eu diria se acreditasse (ou acredito?) nestas neuroses esotéricas.
Neste dia eu saí de minha inquietante adolescência para perceber a austera neurose religiosa alheia. E a partir daí também austeramente busquei a divindade no período que foi de meus 17 aos 40 anos. Eu fui severo comigo mesmo. O mais fanático. O mais abnegado.
Achei-me vil e o mais pecador. Era a loucura que me levou a passear no bipolarismo, na esquizofrenia e na psicopatia daqueles – e minha também – que quer recusar o humano e tem obsessão pelo divino.
 
Como toda expressão religiosa – semita, cristã, esotérica, ou anímica – apregoa, com suas “mortificações da carne” através de regras, conceitos e preconceitos. Deus, acredito que exista, é o princípio de vida. É a vida. É a pulsão da vida identificada por S. Freud. A pulsão de morte é a austeridade.
 A austeridade é o fanatismo, a libertinagem, os vícios, o excessivo, o inquestionável, o dogmatismo, o desequilíbrio, o maniqueísmo – a crença na luta entre o bem e o mal.
 
A arte – anterior à religiosidade – é a religião com o Princípio, a verdadeira religiosidade que se expressa na religação com o início de tudo e todos. A contemplação sem credos ou regras que mortificam, machucam, agridem e especulam a fé no humano.
 
E só o Poeta para denunciar a barbárie da vil austeridade:

“Mora na morte aquele que busca Deus na austeridade”. ___Hilda Hilst.
 
Enquanto toda austeridade aponta a destruição, a Poesia alenta com seus versos.
 

“Ainda que as janelas se fechem, lá fora amanhece.”___Hilda Hilst.
 
Eis a síntese da diferença entre a Arte – Poesia – que liberta e a religião, que aprisiona o sujeito aos seus medos e neuroses:
 

“O Profeta diz a todos: ‘eu vos trago a verdade’, enquanto o poeta mais humildemente, se limita a dizer a cada um: ‘eu trago a minha verdade’.”___Mario Quintana.

 


 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 06/06/2015.
   
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 19/03/2016
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