Chiquinho
Francisco é meu avô. Chiquinho, para os mais chegados; amante incorrigível da Língua Portuguesa desde quando eu me entendo por gente. E se hoje em dia, passados dez anos da época da infância, eu optei por cursar a faculdade de Letras, é certo que tem dedo de Chiquinho nessa história.
Na casa em que morávamos, eu, meu primo e meus avós, havia uma biblioteca, onde vovô guardava suas incontáveis preciosidades, que iam desde gramáticas até discos de vinil; e onde eu, numa tentativa inconsciente de participar daquele universo, acomodava meus gibis da Turma da Mônica.
As histórias em quadrinhos tanto me chamavam a atenção que eu as procurava em todo tipo de livro daquelas prateleiras. Até que as encontrei, camufladas entre palavras desconhecidas de frases verdes, azuis, rosas, amarelas – cada cor indicava uma regra diferente – e assim comecei a me interessar pelos livros de gramática.
Dias se passaram; semanas; talvez até meses, e a prática da leitura era tão divertida pra mim quanto recrutar todas as crianças das casas vizinhas para brincar na rua – o que fazíamos muito. Até porque a importância dada a celulares e computadores naquela época variava de “nenhuma” a “tem um lá em casa, mas e agora, vamos brincar de quê?”. E então aproveitávamos mais da vida tangível, da vida real.
Tão real que me lembro com clareza de quando encontrei, ainda na biblioteca, uma coletânea de poesias escritas por jovens estudantes, cuja capa colorida e reluzente poderia hipnotizar todo e qualquer ser humano menor de quinze anos de idade, e, felizmente, era nessa faixa etária em que eu me encontrava. Não sei exatamente o que mais me encantou: se foi o novo formato de texto – a estrofe -, ou até mesmo a musicalidade construída pelas rimas – o ritmo. De fato, eram os primeiros versos lidos por mim não escritos por “gente grande”, ou seja, “então eu também posso fazer poesia!”.
E foi aquele o dia em que tudo começou.
Muito obrigada, vovô Chiquinho.