UBÁ
Quando criança o nosso sonho era conhecer Ubá. Tudo em Calambau girava em torno daquela cidade:
- a linha de ônibus do tio Benigno, saía daqui com destino a Ubá, passando por Senador Firmino e Divinésia. O seu filho Tadeu, com a “Goiaba”, em parceria com o seu pai, também, fez esse trajeto, no início da década de 60. A “jardineira” ganhou o apelido de “Goiaba” porque tinha a cor desta fruta, quando madura;
-as consultas médicas com os doutores Adjalme Carneiro, Gastão, Lourenço e muitos outros nas diversas especialidades. Depois vieram Dr. Ângelo Porto, Dr. Ivair, Dr. Fernando Dias Paes, e outros;
-as compras de roupas, calçados, móveis, objetos escolares e muitas outras utilidades;
- o comércio de secos e molhados, dos nossos comerciantes com os atacadistas de lá;
-as vendas de bovinos e suínos de nossas fazendas para os seus açougues;
-as compras de jornais e revistas em suas bancas.
Enfim, a ligação de Calambau com Ubá é histórica, pois até o seu fundador, Antônio Januário Carneiro, nasceu aqui. Ambos os topônimos têm origem indígena: Calambau, nome dado pelos índios puris, do gentio botocudo, habitantes da região, que, segundo o genealogista e historiador Pedro Maciel Vidigal, tem duas etimologia: uma derivada de kala e ambaua que significa “mato ralo”, segundo o lingüista Napoleão Reis. Outra, derivada de caram-ba-y que, para o historiador Alfredo de Carvalho, significa “lugar onde o rio faz curvas”. Uma etimologia completando a outra, tem-se o significado do topônimo Calambau: “mato ralo onde o rio faz curva”.
Ubá, em tupi-guarani, significa canoa de uma só peça escavada em tronco de madeira (UBÁ. Prefeitura Municipal. Ubá: história e evolução)
Mato, rio, canoa, madeira, são comuns nos dois topônimos.
Através do jornal Folha do Povo e da Rádio Educadora, sabíamos dos principais acontecimentos de Ubá: políticos, culturais e, principalmente, esportivos. Naquela época, década de 50, muitos, aqui, sabiam quem era Ary Barroso (compositor musical e radialista, ubaense de fama nacional e internacional); José Pires da Luz (ex Prefeito de Ubá e político muito estimado naquela cidade); Ozanam Coelho (foi Deputado Federal e Governador de Minas); Dr. Campomizzi Filho (Promotor de Justiça, Professor, Jornalista e Escritor), grande defensor do nome Calambau , tinha, aqui, grandes amigos.
Para minha família, não tinha nada melhor do que almoçar no Grande Hotel, onde éramos muito bem recebidos pelo Sô Daniel, o proprietário. Esse Hotel ficava na Praça Guido Marliére onde, também, funcionavam o Cine e a Estação da Estrada de Ferro Leopoldina com a sua “Maria Fumaça”. Ainda nessa Praça ficavam o Hotel Centenário e o Hotel Glória, ambos muito conceituados. Na Rua Duque de Caxias, localizava-se a Drogaria Globo, a preferida dos meus pais. Na Rua São José, a de maior comércio, encontrava –se a Ótica Jácia, onde o pessoal comprava os seus óculos. Os retratos eram tirados na Foto Mazzei e Foto Iris.
No futebol conhecíamos o Aimorés, o Bandeirantes, o Derminas, o Industrial. Conhecíamos, também, alguns atletas e o técnico Guzela, que também era alfaiate. Foi ele quem fez o meu terno para a formatura de minhas irmãs, quando terminaram o Magistério, em Piranga.
Jovens de Calambau e cidades vizinhas freqüentavam o cinema em Ubá. No início da década de 50, foram a Ubá, especialmente, para ver o filme “O Ébrio”, estrelado por Vicente Celestino.
E o famoso refrigerante “Abacatinho”, fabricado em Ubá? Fazia a alegria da garotada!
Na Praça Guido Marliére, havia um vendedor de deliciosas balas de coco, que as vendia aos gritos: “Balas de coco, chupa freguês!”
Por tudo o que foi relatado, dá para sentir a influência de Ubá sobre Calambau. E o que foi dito é, apenas, uma pequena amostra dessa influência.
Hoje exportamos mão de obra para Ubá, para as indústrias de móveis e para a construção civil.
Muitos dos nossos jovens também estudam nas faculdades ubaenses.
Embora tenhamos estrada asfaltada para Conselheiro Lafaiete (80 Km) e para Viçosa (60 Km), o nosso povo prefere ir para Ubá (70Km), mesmo tendo que andar 30 Km de estrada de terra até Senador Firmino ou 09 Km, passando por Brás Pires.
O pessoal de Ubá gosta de nos chamar de “beira córrego” ou “alto da serra”, e a todos que habitam a parte alta da serra de Divinésia.
Das cidades de nossa região, Calambau, Senador Firmino, Dores do Turvo, Brás Pires e Divinésia têm maior ligação com Ubá;
Porto Firme e Paula Cândido, com Viçosa;
Piranga e Senhora de Oliveira com Conselheiro Lafaiete.
Em Ubá, os calambauenses sentem-se em casa: conhecem as casas comerciais e também são conhecidos, pois lá têm fama de bons pagadores.
Sabem quem são os médicos, bem como as suas especialidades.
Conhecem os hotéis e restaurantes da cidade.
Quando eu era gerente da Minas Caixa, aqui em Calambau, ocorreu o seguinte:
- Um cliente da zona rural veio abrir uma conta na Caixa, mas não trouxe nenhum documento. Disse-me que sabia de cor o número do título eleitoral. Naquele tempo, o número era pequeno. Então eu disse a ele que me passasse o número do título com a condição de trazer o original, o mais breve possível. Tão logo me ditou o número, eu lhe perguntei:- E a zona? Ele, assustado, olhou de um lado para o outro e disse-me baixinho: - A zona é de Ubá...
É claro, que eu me referia à zona eleitoral e ele entendeu outra coisa.
Até nisso Ubá era referência!
Murilo Vidigal Carneiro