Fantasias de Bartolomeu
"Minerações" lembra o cavar o chão para extrair riquezas. Além disso, lembra o lapidar palavras para encontrar matéria de poesia. É possível. Fizeram-se os "Apontamentos" no escuro das noites. Todos sonharam palavras........ E ninguém precisa entender o poetar. É só se deleitar.
Uma vez, nasceu um poeta escritor, que segundo o próprio, nem tinha intenção de se tornar escritor. Queria unicamente contar uma história estória. Fez-se escritor poeta afeito a fantasias com jogo de letras, a divagações, "De letra em letra". Emparelha uma aqui, às vezes deixa entrar uma no meio, mais outra atrás e mais alguma outra. Constrói palavras. Permeia palavras com espaços e põe sentido, melhor dizendo, atiça "Os cinco sentidos". O aroma do pão induz ao paladar. Transtorna letras e "Raul" vira "luar". No entanto, "Bichos são todos ... BICHOS", poeta o poeta. Divaga com as patas da vaca, do gato, do pato e do rato numa "Estória em 3 atos".
Neste instante, "O piolho" _ ora_ esse mora na cabeça do repolho. Coitado. Do repolho _ ora. "O pato pacato", pacato, só sabe perder para a lagosta que gosta de vencer. Outro(?) pato tem sapato e tem pé o sapo; sapo+pato dá sapato. Porém, a patroa do “seu” pato tem pé-de-pato e não nada patavina. E o "Papo de pato"? É pelado, penado.... ou depenado!
"A formiga amiga" é a que dorme no açucareiro. Desprendida. Que nem peixe; que nem pássaro. "O peixe e o pássaro"...Esses têm lá seus receios. Ou de anzol, redes, peixe maior, estiagem. Ou de estilingue (esse, ainda bem que virou coisa caída de moda), de alçapão, visgo ou chuva. Ela vai se tornando dona da cozinha.
Fazer o quê, hem? Se "Até passarinho passa". Encontra e desencontra. Sabe-se que "Para criar passarinho" precisa de azul de céu, de aragem, de fruta no pé. Entretantos, vive o homem, convive, "Sem palmeira ou sabiá", sem mar. Porém, chove e o meninomem põe sal na aguaceira que a chuva deixa no terreiro. Quisera poder trazer o mar pra frente do olhar. "Ah! Mar..." longe do mar inventa-se um oceano e navega. No sonho. Na poesia fantasia. Bom mesmo é para o "Mário" que é feito de mar, de ar, de rio. O Pedro brinca com tintas e tem o coração cheio de domingo. Aprecia pintar borboletas a voar, a baralhar cores no ar. Se "Coração não toma sol", "Flora" passa o dia escutando o sol. Creio que faz isso para ouvir se é boa hora de soltar os renovos. "Antes do depois "o eu fala das dores do parir, do chegar sem o querer num mundo de cor demais, de som demais.
A "Escritura" faz o renascer do "Menino de Belém". Mas........ quem é mesmo esse menino de Belém? É um que possui o rio como rua. Flui livre. Em paz. O olho de quem que vê a "Matinta Perera"? "O guarda-chuva do guarda" guarda a chuva de quê ou guarda o guarda? "Onde tem bruxa tem fada". Quem é bruxa? Quem é fada? Segredo. Guardo até amanhã. Quando chega amanhã fica para amanhã, que também tem amanhã. Como tem o tempo que dá a conhecer a "Rosa dos ventos" que revela a quentura do sol do verão, o desfolhar do outono, a friagem do inverno e além, o desabrochar das cores das flores. No mais, valem os rumos da rosa, os do sol que acorda no leste e cai no sono no oeste. Contudo, a rosa não aponta os rumos dos "Ciganos" que surgiam “sem saber ao certo de onde vinham ou para onde iam, todavia, roubavam até o sono das crianças”.
Em "Indez", o mundo não estava dividido em dois, um para as pessoas grandes outro para os miúdos. As emoções eram de todos. Ah! Palavras... Mistura de letras, umas de muitas leituras e sentido. Com elas se põe feitio ao "Diário de classe": Menino, olha a janela! Ela. Jane. Nela. Olha a Jane na janela. E a Mariana, a Maria que do outro lado tem Ana; que tem Marina, marina, mana, Marina... É hora de saber "Ler escrever e fazer conta de cabeça". Tempo de virar gente grande com coração de menino pequeno, que constrói sonhos e carrega lembranças de gentes, de fatos e de coisas de Pará de Minas.
O menino aumenta de comprimento e atina que "Mais com mais dá menos". Está certo. Se junta mais tristeza com mais tristeza dá menos alegria. "Correspondência" é moldada com palavras, com permuta de palavras. Algumas que devem ser acordadas e outras que precisam dormir. Acorda trabalho, acorda justiça, acorda terra! Ora, ora. Por onde caminham os mitos dos 'Cavaleiros das Sete Luas"?
"De não em não". Se existe um ser (um ser?) que deva ser morto é a fome. Sob pena de essa devorar a vida. Vida que "Faca afiada" leva. Morte tramada na calada da noite por pai e mãe. Morte para amanhã. Faca no pescoço. O menino escuta e vive noite de terror, com piados de coruja e barulho de córrego e de vento nas árvores. No entanto, no final das contas, o almoço do dia seguinte é farto e feliz. Apesar do fato consumado. Quem lê sabe. "Somos todos igualzinhos". Quando somos diferentes, todos, o mundo fica menos pobre, mais nobre. Ser igual é perder a diferença e não marcar presença!
"Por parte de pai", o avô que é lembrado de um tempo que ficou na lembrança. Um avô de "O olho de vidro do meu avô". Olho vivo azul de vidro buscado na cidade grande. Diz o escritor poeta que ele ainda vê o olho do avô, cor do mar, dentro de um pires, por sobre a mesa de seu escritório. O olho de vidro do avô é o que de mais vivo trouxe do passado. Quando vivo, o avô do olho de vidro que devia ser mágico, não cansava de espiar, mergulhava fundo.
Meio a palavras tantas, ocorre a "Vida e obras de Aletrícia depois de Zoroastro". De A a Z. É momento do riso, do pensar coisas. Aletrícia, sem amor, com dor, faz sua rotina pela ordem das letras: de a a z. Letras ficaram no lugar de sua paixão ida. Zoroastro. A rotina diária envolve o acordar, o sair da cama e o deitar derradeiro na noite. As tarefas do dia, antes as começadas com a, depois com b, ..... h.....j....Z. Tantas letras, tantas tarefas. Foi assim que Aletrícia viveu depois de Zoroastro ir-se. (aposto que o Zorro é seu astro e ela toma sopa de aletria).
Agora leitor, se você não entendeu nada, não ligue. Deixe-se brincar com as palavras. Se quiser, releia o texto. As partes destacadas são títulos da obra de Bartolomeu Campos de Queirós, que nem pensava ser escritor, mas um dia quis escrever uma história estória, achou o jeito e não parou mais. Bartolomeu nasceu em Papagaios. Logo que cresceu um pouquinho passou a catar letrinhas na sua terra e na vizinhança. Em Pará de Minas, viveu um tempo e juntou pontos e vírgulas. Buscou interrogação e exclamação em Paris, no mundo, nas leituras. Hoje vive em Belo Horizonte a jogar com a fantasia, com o encantamento, seriamente. Acerta em gente pequena e em gente grande.