Cada caso é um caso
As palavras trabalham demais. Têm que estar atentas o tempo todo, dando assistência a todos os falantes. Trabalhar é o de menos. O duro, mesmo, é ficar se virando o tempo todo para se adaptar a tudo e a todos.
Vejam, por exemplo, o caso da palavra “caso” num dia qualquer. Logo de manhã, na frente do fórum, dois advogados conversam sobre seus casos. Processos, na verdade. Os casos que vão ganhar, os casos que vão perder. O que um não conta para o outro, é o caso que um deles tem com a secretária. Só aí a palavra “caso” deu uma guinada de não sei quantos graus. Lá longe do fórum, entretanto, o caso sério é o caso da Zika, embora muita gente não faça caso disso. Cada caso é um caso, como se diz. A essa altura, coitada da palavra, o cansaço é enorme. Existem casos de polícia, existe também o caso de marketing. Então aquela injustiça: só porque é um caso chique, o pessoal usa sua prima americana: “case”. Ironicamente, ela arrumou uma prima pobre, “causo”, só para contrabalançar. Eu até gosto: de vez em quando conto alguns...
E existe também a moça que responde ao moço que a pediu em casamento; sim, eu caso. Se for o caso, eu posso dar mais exemplos, mas acho que não é o caso.
Se você pensava que vida da palavra é só ficar lá no dicionário, esperando ser consultada, está enganado. Não é o caso...
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Estranhas Histórias
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