NO REAL, SEM DISFARCES...
Não tinha mesmo nada para fazer e resolvi bater papo em um chat. Me passei por uma outra pessoa, como a maioria faz na net. Dificilmente se identificam. Criei uma personagem e lá fui eu para ver o que acontecia. No mínimo, ia dar umas boas risadas.
Paula era uma moça de 25 anos, universitária, carente afetivamente, a procura de um ser humano especial, que preenchesse essa lacuna. Criei-a linda, loira, olhos esverdeados, alta, medidas de manequim. Imagine se ia dizer que sou gordinha, baixinha e de muito mais idade! Ficaria ali, falando sózinha, por mais conteúdo intelectual que tivesse. Vivemos num mundo onde a imagem e a superficialidade falam mais alto. Sendo assim, Paula era um perfil perfeito.
Não sei dizer quantos deixei falando sózinhos. Não havia como atender aos chamados, pedidos de telefone, alguns literalmente imploravam por uma atenção e muitos mandavam seus emails para que Paula os adicionasse.
Tive que ser seletiva e iniciei alguns bate papos, mas os abandonei por absoluta falta de paciência, tamanha era a futilidade de suas conversas. Acabei escolhendo um, o qual me pareceu razoavelmente civilizado e respeitoso.
Conversamos por mais de uma hora e eu pude ver o quanto as pessoas estão carentes e necessitadas de atenção, pela forma como se afeiçoam assim, do nada, sem conhecer a pessoa, sem procurar se aprofundar, sem nenhuma base de conhecimento.
A facilidade com que se encontram nos dias de hoje opções de exercitar a sexualidade, fez com que as pessoas se tornassem superficiais. O sexo se tornou algo banal, sem sentido.
Valores, princípios, critérios, caráter e demais virtudes que considero essenciais em um ser humano, tornaram-se hoje desnecessárias, fora de moda e a ordem agora é liberar.
Paula saiu de cena, por não querer criar falsas expectativas naquele pobre homem, que se dizia já apaixonado e querendo ansiosamente um encontro.
Passei o meu tempo, mas não consegui dar as boas risadas que pretendia. Concluo com esta reflexão, que considero útil para quem, como eu, ainda acredita em relações mais consistentes, daquelas que surgem no dia a dia, onde o personagem é ele mesmo, no real, sem disfarces...