Folhetim - Três Noites de Paixão - I

A professora Lúcia iria defender uma tese de mestrado sobre a literatura regional. Ela decidira que o seu trabalho englobaria oos autores de cordel, cantadores e repentistas, poetas, romancistas e alguns nomes do jornalismo interiorano.

Começou colecionando material para a pesquisa: folhetos de cordel, velhos jornais, livros etoda sorte de documentos. Quem mais a ajudava nessa empreitada era o padre João. Quase todos os dias ela mostrava a ele algumas das suas anotações. Ele adorava esses momentos, não sóporque gostasse do assunto, mas sobretudo porque admirava aquela mulher, perto dela remoçava e às vezes pensava: "Nem só de rezas vive um padre! Deus me perdoe mas essa professora é uma tentação pai d'égua". Mas não dava nenhuma bandeira.

Certo dia o padre estava com a professora apreciando o material da pesquisa, volta e meia arriscava um olho nas formas dela, o tailleur era justo e incentivava à fantasia, quando, de repente, lembrou-se que trouxera um livro para ela, tirou o volume da surrada pasta de couro e lhe entregou dizendo: "Professora, ontem remexendo nos meus guardados achei um livro antigo. É "O Cadete Bonifácio", um excelente romance escrito por Zeferino Galvão, um jornalista de Pesqueira falecido em 1924. Veja bem, esse sujeito escreveu vários romances, ensaios e um livro de poesia. Era autodidata, aprendeu sozinho várias línguas, imprimiu livros e jornais e, claro, lutou contra as injustiças sociais. Em Pesqueira, na Biblioteca Municipal, deve haver todos os livris escritos por ele. Na minha opinião você devia ir lá tomá-los emprestado, conversar com algumas pessoas que conhecem a vida desse escritor e, se for o caso, incluí-lo na sua monografia".

A professora que ouvia atentamente o padre e, de vez em quando, folheava o livro, perguntou:

- Padre, a rua onde fica o colégio das freiras tem o nome dele, não é?

- Correto, mas não só em nossa cidade que há uma rua com o nome dele, mas em todas as ciodades que foram beneficiadas pela estrada de ferro. Foi ele que, nas páginas do seu jornal, "Gazeta de Pesqueira", lutou para que os trilhos passassem por essas cidades. Iam discriminar a Região.

- Padre, por que nas tertúlias literárias que o senhor costuma realizar, nunca falou sobre esse escritor?

- Penso, professora - coçou a cabeça embaraçado -, que por pura injustiça. Talvez até preconceito, sei lá, quem sabe pela mania que temos de só comentar as obras dos medalhões da literatura. Dou a mãoà palmatória.

Ela nem precisou ir a Pesqueira porque soube que o líder dos comunistas da cidade possuía os demnais livros de Zeferinio Galvão.

A professora leu os livros avidamente, releu alguns, analisou, dissecou toda a obra do escritor. Mas não ficou satisfeita só com isso. Foi a Pesqueira, ela queria traçar o perfil do autor enquanto escritor e também do homem, entender a sua luta contra as forças reacionárias da sua época, absorver a força da figura humana, os obstáculos que enfrentou, o seu papel no jornalismo. Conversou com várias pessoas, leu jornais antigos na biblioteca e de coleções particulares, copiou várias matérias e foi presenteada. por um parente de Zeferino, com um volume de crônicas escrito por Anísoo Galvão, um dos filhos do escritor, uma figura impiortante que morrera precocemente aos 40 anos. Aníso fora deputado, jornalista, poeta, cronista e talvez o melhor orador da sua geração em Pernambuco. No final desses cotatos, ela passou uma semana em Pesqueira, tinha na cabeça o perfil do escritor e do homem, e ma certeza: a sua monografia abrangeria apenas a obra de Zeferinio Galvão e a sua kuta no jornalismo.

- Continua -

P.S. Peço perdão pelo começo meio chato. Acho que depois melhora. Penso que só um véio caduco insiste em botar um folhetim na internet. Abraço.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 16/03/2016
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