INCIDENTE EM SÃO VICENTE: BOMBEIROS PILOTANDO UM BONDE
INCIDENTE EM SÃO VICENTE: BOMBEIROS PILOTANDO UM BONDE
Na época que os bondes eram o meio de transporte público preferido dos moradores da Baixada Santista, essa estória aconteceu. Foi com meu bom amigo Francisco Infante, que viria depois trabalhar em Mato Grosso como meu Encarregado de Transportes.
Os bondes (prá quem não sabe a palavra vem de “bond”, bônus em inglês, que eram distribuidos para os passageiros desses veículos e passou a ser o nome desse meio de transporte, conforme ensinou o saudoso professor de Inglês Rutiglianno) tinham custo baixo, eram movidos a energia elétrica, eram abertos e era uma delícia viajar neles. Várias linhas de bonde interligavam Santos e São Vicente, sendo que a Praça Barão do Rio Branco era o local de maior concentração de bondes de São Vicente. Ali se encontravam os bondes 13 (Ponta da Praia), 01(vinha pela hoje Av. Nossa Senhora de Fátima), o 32(Embaré). Duas dessas linhas, o bonde 02 e o 22 (Centro de Santos, acho que vinham pela Ana Costa) chegavam à Praça Barão pela Rua Frei Gaspar vindos da praia contornavam a praça e seguiam pela Rua Martim Afonso até a Praça da Biquinha viravam à direita e seguiam passando pela Praça João Pessoa, seguiam pela Rua Marquês de São Vicente até a Av. Capitão Mór Aguiar onde dobravam à esquerda, seguindo até o ponto final próximo ao São Vicente Praia Clube e ao atual quartel do Corpo de Bombeiros. As linhas eram numeradas sequencialmente, conforme eram colocadas em operação. Administrados pela CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), até hoje os santistas têm saudades dos bondes. Sempre que havia greve dos funcionários da CMTC, os bombeiros eram convocados a garantir o bom funcionamento de malha viária dos bondes. Assim, não havia interrupção desse importanta serviço de utilidade pública. Em consequência disso ocorriam inúmeros problemas: os bombeiros não conheciam os itinerários corretos, não sabiam o valor da tarifas, não faziam trôco direito. A coisa funcionava precariamente, mas gerava muita confusão. As reclamações eram muitas.
Bom, voltemos a nossa estória. O Infante, lá por 1958 ou 1959, estava prestando serviço militar. Morava na Rua Henrique Ablas e estava no bonde 02, operado pelos bombeiros, vindo de Santos. Já havia dado o dinheiro ao bombeiro cobrador e nada do mesmo dar o troco. Chegado próximo de sua casa, o Infante levantou e, em altos brados cobrou seu troco. Foi desacatado, e ficou sem receber a importância que lhe era devida. Estava à paisana. Correu para casa, vestiu a farda de soldado do Exército. O bonde 02 retornava do final da Capitão Mór Aguiar e, na volta, fazia o mesmo percurso da ida. Infante, agora fardado, aguardou na mesma para em que havia descido. È preciso esclarecer que o Exército era respeitado por todas as demais autoridades fardadas. A Polícia Militar chamava-se Fôrça Pública, havia ainda a Guarda Civil. Todas respeitavam os militares do Exército. Isto posto, o Infante deu sinal, o bonde parou. Ele fez os bombeiros descerem do veículo, colocou os três ou quatro bombeiros em forma e cobrou seu troco. Como não aparecia o que estava solicitando, ordenou que o bonde se dirigisse pela linha 1 até a altura do quartel, entâo chamado de 2º BC.
Infante fez os soldados dos bombeiros descerem, ir até o quartel. Depois de muita discussão, o oficial do 2º BC obrigou a darem o troco que estava sendo exigido. Infante pegou seu dinheiro e dispensou seus “comandados”.
Paulo Miorim