Diplomácido?

Uma pesquisa conduzida pelo diário espanhol El Mundo revela que os profissionais mais benquistos pela população daquele país ibérico são, pela ordem, bombeiros, médicos e professores. No extremo oposto situam-se diplomatas, inspetores fazendários e juízes.

O resultado não me surpreende. É de uma clareza e lógica cristalinas, como os cristais tais de Goiás, e de nossa Minas. Não sei, contudo, se a manifestação dos inquiridos terá sido espontânea, ou dirigida. Sou mais por essa segunda hipótese, e por uma razão que me parece singela, ainda que suscite alguma querela: quem é afinal, no meio do populacho iria se lembrar de colocar a categoria diplomática na vasta relação de profissões, e mais, categoriza-la de forma tão destacada, mais por seus senões?

O nosso Brasil, de duzentos milhões de habitantes tem aproximadamente um mil e quinhentos diplomatas em atividade. E eles vivem maciçamente em funções no exterior, e concentrados em Brasília. Na Espanha, com cerca de um quarto da população do Brasil, esse formato concentrativo não há de ser diferente. Tanto lá, como alhures. Normalmente diplomatas não se metem nos serviços de prestação de assistência sanitária ou na formação didática dos cidadãos. E muito menos salvando vidas em risco ou apagando incêndios.

Resta a noção de se os associar, além das constantes viagens internacionais, aos banquetes e às recepções oficiais. Ou de preparar discursos bombásticos para seus líderes pronunciarem em foros especializados, que, raramente ecoam fora daqueles umbrais. Ou então se fecharem em negociações intermináveis e indecifráveis que têm ainda mais restrita repercussão, numa orgia de poliglossia. Mas - justiça que tarda - e os militares, cujo maior fardo é a farda? Ou o clero, que já teve vida tão cor-de-rosa, e hoje, se esclerosa?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 15/03/2016
Reeditado em 15/03/2016
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