Voltando a Sonhar
Os raios de luzes já incineravam as sombras da sala, Como de praxe ele acordou antes do despertador. Levantou e foi para o banheiro com movimentos vagarosos, ainda encharcado pela preguiça matinal.
No espelho viu seus olhos, encarou-os com o mesmo desdém apático de alguém há muito tempo cansado. Passou a toalha no rosto e cuspiu no canto da pia, aonde a água não alcança sem a concha das mãos. Com alguns tapas mandou o arredio cabelo à lona.
Vencendo a passos curtos, em direção à cama, calçando e caçando a nudez, consciente que seria a última vez...
Ela, se confundia com as cobertas, exceto pelo olhos e cabelos mais negros que a noite que ainda escorria pela sala. Suas mãos se tocaram e trocaram indizíveis palavras.
Como sempre fez, beijou sua testa e suas bochechas, passou um leve carinho nas curvas de suas costas, subindo em direção ao rio negro que brotava de sua pela alva. Olhou seus olhos e estes olharam-no. Parou. A mudez caiu como uma franja por cima de cada esboço de sílaba.
Beijou seus lábios sem prazer, analisando cada falha, cada fissura, cada imperfeição, cada retalho de sentimento que já escorria pelos olhos.
Apertou a dobra do seu dedo indicador e de olhos mudos disse: no vemos outro dia, certo? - os olhares novamente colidiram.
Foram tantos olhos, mornos, molhados, suados, torneados, sugados, alheios e alados que não houve mais o que olhar
Ele foi embora para nunca mais voltar. Ela... Voltou a sonhar.