O Lampião
Um lampião a querosene havia entre os restos que sobraram dos tempos em que minha família vivia na fazenda. A ele escolhi para decorar meu quarto de solteiro no início da década de 1980 – única vez que eu teria um quarto só para mim: em família numerosa, privacidade é um privilégio.
Para aquela peça que contava pretéritos comprei arandela nova e pintei os metais de preto para agregar ainda mais rusticidade. Às vezes acendia o pavio e deixava as sombras projetadas pelas chamas imprimirem formas dançantes e a fumaça em fio orquestrar a monotonia que atiçava a imaginação. O que teria ocorrido em décadas anteriores compondo lacunas nos casos de família? O que seria nos anos vindouros que se revelariam colunas?
Incertezas!
As incertezas sempre me provocaram medo.
A década começava, a vida me chamava, os tempos sem responsabilidade findavam e as cobranças de atitude se faziam.
Para contornar esta insegurança, este medo, embrenhei-me em uma religiosidade tamanha. O catolicismo da família se mostrava capenga e caduco: aqueles quadros de santos feridos, purgatórios, serpentes e dragões me aterrorizaram sempre e reportavam a dores. Optei pelo protestantismo fazendo parte de um leque tamanho de denominações: as loucuras fanáticas cansavam e só reforçavam culpas. Cheguei ao alienado esoterismo cheio de ritos que quer explicar a realidade com suposta dimensão exótica.
Nesta peregrinação religiosa encontrei pessoas sinceras e outras tantas oportunistas. Achei toda sorte de sentimentos escondidos atrás desta religiosidade: inveja, preconceito, orgulho, discriminação, elitismo...
Eu concluí que atrás de toda forma de religião, toda, e nas igrejas e templos estão os bipolares que se deixam levar pelo arrebatamento emocional; os esquizofrênicos que deixam de viver a realidade por suposta dimensão espiritual representada pelo imaginário; e os perversos sociopatas que exploram o medo alheio em benefício próprio. Estão ali também os neuróticos como eu mesmo.
Acredito em Deus?
Sim. Não no deus usado e utilizado nas religiões para fazer proselitismo e nem ritualístico. Creio no Deus anterior às religiões e que se manifesta nas Artes.
Os medos mudaram suas máscaras.
Acredito na vida.
A vida é maior que religião, assim como Deus é maior que Eu e os “eus” de deus.
Aquele lampião se perdeu à medida que o romantismo ficou para trás e o pós-moderno revestiu as incertezas com outras roupagens.
A época dos lampiões passou. As lâmpadas se fizeram presente. O que virá depois?
Naquele filme que se perdeu na memória gostei da fala – seria de Woody Allen? – quando disse que religião é só um clube social onde as pessoas cumprem ritos para se sentirem eleitas e despreza quem dela não faz parte.
Um lampião a querosene havia entre os restos que sobraram dos tempos em que minha família vivia na fazenda. A ele escolhi para decorar meu quarto de solteiro no início da década de 1980 – única vez que eu teria um quarto só para mim: em família numerosa, privacidade é um privilégio.
Para aquela peça que contava pretéritos comprei arandela nova e pintei os metais de preto para agregar ainda mais rusticidade. Às vezes acendia o pavio e deixava as sombras projetadas pelas chamas imprimirem formas dançantes e a fumaça em fio orquestrar a monotonia que atiçava a imaginação. O que teria ocorrido em décadas anteriores compondo lacunas nos casos de família? O que seria nos anos vindouros que se revelariam colunas?
Incertezas!
As incertezas sempre me provocaram medo.
A década começava, a vida me chamava, os tempos sem responsabilidade findavam e as cobranças de atitude se faziam.
Para contornar esta insegurança, este medo, embrenhei-me em uma religiosidade tamanha. O catolicismo da família se mostrava capenga e caduco: aqueles quadros de santos feridos, purgatórios, serpentes e dragões me aterrorizaram sempre e reportavam a dores. Optei pelo protestantismo fazendo parte de um leque tamanho de denominações: as loucuras fanáticas cansavam e só reforçavam culpas. Cheguei ao alienado esoterismo cheio de ritos que quer explicar a realidade com suposta dimensão exótica.
Nesta peregrinação religiosa encontrei pessoas sinceras e outras tantas oportunistas. Achei toda sorte de sentimentos escondidos atrás desta religiosidade: inveja, preconceito, orgulho, discriminação, elitismo...
Eu concluí que atrás de toda forma de religião, toda, e nas igrejas e templos estão os bipolares que se deixam levar pelo arrebatamento emocional; os esquizofrênicos que deixam de viver a realidade por suposta dimensão espiritual representada pelo imaginário; e os perversos sociopatas que exploram o medo alheio em benefício próprio. Estão ali também os neuróticos como eu mesmo.
Acredito em Deus?
Sim. Não no deus usado e utilizado nas religiões para fazer proselitismo e nem ritualístico. Creio no Deus anterior às religiões e que se manifesta nas Artes.
Os medos mudaram suas máscaras.
Acredito na vida.
A vida é maior que religião, assim como Deus é maior que Eu e os “eus” de deus.
Aquele lampião se perdeu à medida que o romantismo ficou para trás e o pós-moderno revestiu as incertezas com outras roupagens.
A época dos lampiões passou. As lâmpadas se fizeram presente. O que virá depois?
Naquele filme que se perdeu na memória gostei da fala – seria de Woody Allen? – quando disse que religião é só um clube social onde as pessoas cumprem ritos para se sentirem eleitas e despreza quem dela não faz parte.
“Eu sou um recriador do passado... não podemos descrever o passado sem o que aprendemos no presente.” Pedro Nava
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 29/07/2015.
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