Paulo pra toda obra

Dizem que um gambá cheira outro. Mas, em sendo pavão, nunca dei muito crédito pra isso não. Até que numa antevéspera de natal, precisamente, o de 2015, ao vê-lo ao portão, aproximei-me. E era o próprio, Paulo Gambá, nosso ex-alcaide, na imponência de seus próximos 83 anos.

Era um começo de noitinha, na nossa mais charmosa pracinha, a do jardim, onde havia sido celebrada uma festinha pre-natalina. Sem referência ou pessoa de minha geração à vista, aproximei-me e saudei o ilustre homo politicus. Não era a primeira vez que o via, mas não creio que nos tivéssemos saudado antes. Paulo respondeu-me calorosamente e com a fidalguia de um Vasconcelos, respondeu a umas duas ou três perguntas triviais que lhe fiz e, fidalgamente, convidou-me para entrar, conduzindo-me a uma confortável sala de sua bem montada residência, que partilhava com a mulher Dirce e os filhos, outro Paulo, e Dênia.

O que se seguiu foram umas duas horas de conversação, ou eu poderia aqui dizer, de audiência, em que Paulo Vasconcelos encantou-me com as suas manifestações de carinho e desvelo pela terra em que nasceu e se criou e onde exerceu uma vitoriosa e reconhecida sucessão de cargos públicos ao longo de 18 anos, entre os quais, duas gestões completas e uma parcial à frente da magistratura municipal. Um récorde. E récorde digno de ser alcançado, mantido e quiçá desafiado.

Um de seus orgulhos foi a construção do viaduto que liga a cidade ao progressista bairro do Chapadão. Inteiramente com tecnologia, recursos e mão de obra da própria Prefeitura Municipal da cidade. Até sobre o povoado do Brumado, hoje em bairro transformado, Paulo tinha o que falar, e por meio de fotografias - seu acervo impressionou-me - obras de urbanização, saneamento, embelezamento, passou a me mostrar.

E nosso encontro não terminou ali. Na manhã seguinte, voltei para conferir as fotografias, e ouvir mais relatos de amor e afeto à terra e aos seus cidadãos, sobretudo os mais necessitados. Em reconhecimento a esse trabalho diuturno e despojado, a Câmara Municipal da cidade, outorgara-lhe havia poucos meses signficativa comenda da ordem do Município, ocasião em que se postara garbosamente ao lado de outros ex-colegas de cargo, três dos quais meus ex-colegas de ginásio, Joaquim Lobato, Eduardo Lopes Cançado e Evandro Mendes, e o quarto ainda , ex-professor catedrático-matemático Elvécio Diniz, no espaço nobre da harmoniosa igreja de São Francisco ostentando a medalha ao peito. E ao prefeito. Não me recorda agora se o atual ocupante titular e popular de nossa Alcaidia, Marcílo Valadares, encontrava-se entre os laureados. Certamente que participou do relevante evento.

Só uma coisa soneguei a esse ex-Prefeito; nada lhe falei sobre uma paixão infantil que me tomou de súbito quando fui atendido na papelaria sua, a Escolar, justamente na mesma pracinha do Jardim, por uma de suas irmãs que me enfeitiçara com um sorriso colgate e uma frase arrebatadora: ..."para você que é amigo, são trinta cruzeiros...".E essa dívida até hoje dividendos rende...sem chance de que eu me

emende.

E não foram poucas, muito poucas semanas deste nosso fortuito encontro, e ainda sob o impacto do falecimento recente de meu progenitor, o Luiz, ocorrido em 04/01/16, que fui - juntamente com uma multidão de correligionários, admiradores e até mesmo parentes - informado da súbita morte de um homem querido e respeitado, esse Paulo que com duas conversas apenas ganhou todos os meus votos para uma boa e prolongada vida na terra, que logo se transferiram para uma afortunada eternidade, pranteado e sempre lembrado pelos que puderam conhecê-lo, na plenitude de sua simplicidade e generosidade.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 11/03/2016
Reeditado em 01/11/2023
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