Simpatia e amor

Não me lembro do nome dele. Perguntei, ele disse, mas, sinceramente não me lembro. Ele tinha ido lá em casa para tomar as medidas de um boxe de chuveiro. Era um senhor de meia idade, veio de metrô e reclamou muito da caminhada que tivera que dar desde a estação e que eu dissera que eram só cinco minutos. “Cinco minutos, uma ova! Andei quase quinze.” Depois viemos a descobrir que ele fizera um caminho muito mais complicado que o normal.

Simpatizei com ele mesmo assim. E porque eu simpatizei, perguntei se depois de aprovado o orçamento, pronto o boxe, ele viria instalá-lo. Baixou a cabeça meio embaraçado, disse que não e depois deu a explicação. Ia para a faca nos próximos dias. Constatara-se um tumor na próstata, era maligno, fizera um primeiro tratamento sem sucesso, e agora era pra valer.

Em nenhum momento falou da morte. Aparentemente era algo que não o preocupava. A vida é assim, altos e baixos e a idade não perdoa.

Em compensação falou muito da vida amorosa. É o que mais o preocupava. O médico tinha dito que não era para se apavorar, mas nunca mais ia ser a mesma coisa. Tinha uns remedinhos para estimular a potência, mas mesmo assim a operação deixava suas sequelas.

Simpatizei com ele mais ainda. Pela confiança de me fazer seu confidente, depois de uns cinco minutos de conversa a toa. Pela abertura e pela descontração. Acho que quem fala das coisas, principalmente as mais íntimas, as mais dolorosas, já tem meio caminho andado.

Simpatizei também pelo amor. Ele não era um aventureiro para quem o sexo permitia a conquista de troféus. Não, era ele e a velha só, filhos já criados. Bem que a cirurgia podia dar a desculpa para o descanso do guerreiro. Mas não! Ele não queria a desculpa. Ele queria era avançar, com a quilha sulcar os mares e fincar o firme e rijo mastro não na terra nova e desconhecida, mas na velha terra mesmo, a cansada, que também merecia uma conquista. Conquista muito mais difícil porque era a do dia a dia, sem luzes, nem brilhos.

Cláudio Thomás Bornstein