SEM ENXERGAR O PRÓPRIO UMBIGO

Um pouco depois que retornei a Porto Alegre, vindo do interior do Estado onde residi por nove anos, comecei a perder meu umbigo. Passava pela praça XV e ouvi a gritaria:

- Pega ladrão, pega ladrão! - escorei-me na parede do antigo abrigo do bonde e lá vinha ele, dava dois passos e olhava sobre o ombro, quando ele passou meio metro dei-lhe um cutucão no calcanhar e lá foi ele na direção do chão cheguei junto e agarrei-o pelo cangote e calças na altura da bunda, dei um rodopião e levantei-o como se fosse um saco de farinha.

Gostei e então repeti a ação por dezenas de vezes. Caminhava alguns metros e entregava-o aos patrulheiros. Um dia tive notícias que a idade não poupa, numa das levantadas do saco de batatas senti uma ardência no umbigo. Iniciara-se uma hérnia. Os anos foram passando e meu umbigo desapareceu. Se por um lado a ideia de ser operado não me fazia bem, por outro tornei-me independente, passei a ver ao longe esqueci do próprio umbigo, aliás, aquele que não existia mais.

passados quase 30 anos as mãos habilidosas do cirurgião devolveram-me o umbigo, se não fosse a cicatriz, certamente eu esqueceria e passaria a residir meus pensamentos no meu próprio e ignoraria as demais pessoa.

A cicatriz não deve a correção somente da hérnia, mas de outro músculo que estava muito dilatado.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 09/03/2016
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