Meu Avô foi lá em casa
(Escrevi essa crônica há alguns anos e resolvi republicar aqui)
Meu avô foi lá em casa como sempre ia quando não tinha nada para fazer.
Minha mãe falou: Pai, faz um galinheiro pra nós? O Alcino ganhou umas galinhas e elas não podem ficar soltas por aí.
Ele disse: Cadê as ferramentas ?
Tão ali no quartinho pai.
Meu avô pegou o martelo, o serrote e uma lata de pregos velhos.
Pegou também umas madeiras velhas que estavam amontoadas no quintal.
Telas abandonadas de um galinheiro antigo, todas retorcidas.
Aí me falou: Vem, ajuda o vovô!
Lá fui eu, cinco anos apenas, naquele tempo.
Ele cavou uns buracos, mediu, serrou e fincou os caibros
Eu ali, acompanhando aquele ir e vir.
De vez em quando ele me pedia uns paus, umas balaustras.
Uns pregos que espirravam quando ele martelava errado.
Aquilo foi tomando forma, fez até uma portinhola.
Eu ali, curioso, perguntando tudo feito uma matraca.
Ele, paciência e amor só respondendo.
Enquanto colocava a tela levava uns arranhões daqueles arames soltos
Dizia, ih..o vovô tá com a pele fraca
Ele fumava muito e bebia umas doses a mais de vez em quando, minha avó Elisa sempre reclamava disso.
As vezes ele punha o cigarro atrás da orelha enquanto trabalhava.
Depois esquecia e me dizia: Você viu meu cigarro ?
Eu dizia: Taí vô, atrás de sua orelha.
Ele ria e dizia: O vô tá ficando esquecido.
O galinheiro ficou pronto, ele ficou feliz
Falou: Só falta as galinhas ! chama a mamãe pra ver.
Lá fui eu, correndo chamar minha mãe.
Ela ficou contente, meu pai havia ganho umas galinhas dos clientes do banco, na maioria pequenos sitiantes, agora elas já tinham onde morar.
Em uma semana o galinheiro estava cheio, vieram também dois patos de pescoço verde com colarinho, desciam penas verdes a partir da cabeça e depois tinha um colarinho de penas brancas.
Depois veio um peru preto, a gente assobiava e o peru cantava feito um louco, de vez em quando ele matava umas galinhas, subia em cima e quebrava a coluna delas, naquele dia tinha galinhada em casa.
Essa lembrança veio em minha cabeça um dia desses, pensei: acho que estou ficando usado demais. Rebusquei meu passado e descobri rios e riachos de saudade daqueles tempos em quê só existia inocência e nada mais.
Meu avô fez a grande viagem, agora, deve estar cercando estrelas nos campos do Senhor.