II.
Amar é um excesso de acúmulos. Uma bomba relógio prestes a explodir. Uma bomba que não sou capaz de desarmar.
E, se tudo é como há de ser, nem sei o porquê de tantas lágrimas dolosas escorrerem pela minha face nessas madrugadas desalentadas sempre nebulosas.
Teus olhos parecem estrelas engarrafadas, vívidas numa lembrança límpida. Eu sou um poço sem fundo, um suicídio que não deveria destinar-se à ninguém.
O cigarro em brasa que pende dos teus lábios tem mais vida que eu. Ninguém vive com a dúvida rasgando as entranhas, colibri. Por que eu haveria de ser exceção à regra?
Tornei-me um barulhento enxame de mágoas. Uma roleta russa de porquês sem respostas.
É provável que já não encontres em mim uma rosa sequer da qual possa degustar o néctar.
Sucumbi. Reduzi-me ao pó. Enrola-me na seda. Se tens que me absorver de alguma forma, trague-me. Peço apenas que, ao menos dessa vez, me deixes arder até o fim. Ou te apraz ver-me agonizar?
Tu és devaneio, colibri. Cala-te, pois, essa madrugada. Tua melodia impede que eu convença esse meu coração desregrado de que não passas do delírio de uma mente enferma.