PENSANDO NA MORTE...

Não sei se é pelo fato de estar bem próximo dos 70 anos que eu tenho pensado muito que a minha estada neste planeta esteja chegando ao fim. Comparo a passagem do humano a uma viagem: quando alguém tem que percorrer quinhentos quilômetros e ele já tenha alcançado quatrocentos, significa que faltam apenas vinte por cento para finalizar o caminho. Vejo assim também a nossa vida. Se ela dura em torno de 80 a 85 anos, 70 anos representam, praticamente, 80% do caminho percorrido. Faltam apenas 15 anos, em torno de 20%. Acho que me encontro no final dessa viagem. Resta-me apenas esse percentual. Ah, sem contar que o combustível possa acabar e seja necessário antecipar a chegada ao destino, ou seja, ao final da caminhada.

Não raro, perco o sono e começo a refletir quão difícil será deixar tudo para trás. Não penso em coisas materiais: casa, carro, dinheiro, bens, etc. etc. Mas nas pessoas as quais amo tanto, bem próximas a mim. Entristece-me, ainda, pensar nas coisas bonitas de nosso planeta das quais vou me afastar: as maravilhas naturais, o saborear de uma fruta ou de um alimento apetitoso, uma tarde bonita, o pôr-do-sol, as estrelas, a lua, o mar, o colorido e o canto dos passarinhos, o sorriso, o gracejo e o carinho espontâneo de uma criança. Deixar tudo isso, que tristeza! Lembro-me de uma frase do humorista Chico Anísio. Perguntado, certa vez, se ele tinha medo de morrer, sua resposta foi bastante rápida e incisiva: “Não tenho medo de morrer. Tenho pena de morrer.”

Se existe uma angústia muito grande em meu coração? Posso garantir que sim. O que virá depois? Um mistério enorme me leva ao desespero. Eternidade... Minha alma viverá eternamente. Acaba o calendário. Não se mede mais o tempo. Isso me assusta “por demais”. Deus me receberá com braços abertos? E o acerto de contas? Como será?

Não adianta fugir. Todos sabemos que, quando nascemos, começamos a morrer. Um dia, certamente, teremos que baixar à terra fria, ou “até que um dia deste o grande mergulho nas trevas (...)” (Machado de Assis).

De olhos fechados, acordado, em meu leito, pelas madrugadas, faço uma viagem de volta à minha infância. Procuro me lembrar de tudo que já passei. Do carinho e das preocupações dos meus pais, da frequência escolar, da comidinha no prato, elaborada pela mamãe, das brincadeiras, dos amiguinhos. Viajando no tempo, de volta ao passado, faço uma retrospectiva de minha vida. Desde a infância aos dias de hoje. Às vezes, me vêm à mente muitos arrependimentos. Muitas mágoas. Decepções. Humilhações sofridas. De muita coisa que deixei de fazer e que não há como mais recuperar. Ao mesmo tempo, fico pensando que fui muito afoito, corri à frente do tempo e não percebi que ele estava voando e eu ficando para trás. Assusto-me. O tempo passou tão depressa e eu nem vi.

Pensando... Pensando... Costumo dormir, embalado pela minha história.

Noutra noite, quando a insônia de novo me castiga, começo a pensar que minha missão já está chegando mesmo ao fim. Imagino espichado em uma caixa de madeira, envernizada, com certeza, cheia de flores bem organizadas. O meu cadáver frio e teso... As pessoas conversando e um zum-zum muito grande, à minha volta, no velório. Certo é que comentários diversos tomarão conta do recinto. Alguns fazendo referência à minha personalidade. Tomara que eu possa, não pelo fato de estar morto, estar recebendo elogios! Outros dizendo que o meu momento havia chegado e que minha missão tinha sido cumprida. Provavelmente pessoas muito queridas derramando lágrimas e, na hora do fechamento da urna, me dizendo o último adeus.

Vivo o meu presente e tenho uma preocupação muito forte. Quando estiver passando para o outro lado, gostaria de deixar uma boa impressão para as pessoas que conviveram comigo nesta terra. Não é por falta de tentar. Imaginem: Eu, “mortinho da silva”, e as pessoas pensando mal de mim. Puxa! Sujeito rancoroso, coração de pedra. Fingido. Não. Não. Isso não. Por isso luto para ser uma pessoa melhor. Quero, deveras, passar por este planeta de uma forma bastante salutar. Fazendo bem às pessoas, amando meu próximo, sendo generoso, sincero e, o melhor, penso eu, deixando bons exemplos, que possam ser lembrados com carinho e com saudade.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 07/03/2016
Reeditado em 07/02/2017
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