DIÁRIO [07/03/2016]
 

07/03/2016 13h18
PREGUIÇA
 
Hoje é segunda, a coisa é de segunda e não desenguiça. Estou atolado na preguiça. Dia de fazer linguiça. Vamos ver de agora para a tarde... Sei que a coisa vai mal, mas tapei o nariz para não sentir o cheiro de Weimar.


 
Estão construindo um sobrado de pequenos apartamentos ao lado da minha casa. Muro a Muro. Dezessete apartamentos ao todo. Um cortiço daqueles com "cozinha americana". Começaram a rebocar a parede que dá para o nosso lote, por isso pediram permissão e encheram de andaimes o nosso quintal. Conversei com o pedreiro, o servente e o engenheiro. O pedreiro pareceu-me engraçado e estranho. Conversar com ele dá a impressão de estar em frente a um personagem de desenho animado. Justamente pelo modo como fala. Difícil explicar porque, mas essa é a sensação. O engraçado é o seu fraseado. Ele conversa botando fases entre as frases. Meio sincopado, como no jazz. Sua boca metralha as sílabas emendando as palavras até terminar numa ênfase tônica na última sílaba da frase. É o ponto final, ele não usa vírgula. Fala rápido. Quando se embaralha em uma sílaba, ele recomeça do início, tipo um carro tentando pegar no tranco. É um fraseado gaguejante. Conversar com ele assume a feição de assistir... Assistir TV. Por isso, pelo seu jeito de conversar, é que ele se parece com um personagem de desenho animado. Algumas pessoas se parecem com coisas. Conheci um funcionário de uma prestadora de serviços de TV a cabo que se parece com uma paca, esse inclusive é o seu apelido. Quem me disse isso foi outro funcionário, chamado Joelho. Tem também aquelas pessoas que se parecem com peixes, e essas são bastante frequentes. Esse é o caso do apresentador de TV, Raul Gil. Tem aqueles que se parecem com Guarda-Chuva, como era o caso do Mário Lago. E tem aquelas pessoas que a gente vê e logo vem a ideia de um ponto de interrogação fundido com um ponto de exclamação, esse é o caso do Tom Cruise, da Luciana Gimenez, da Ticiane Pinheiro e do César Filho. É a famosa cara "eu não estou entendendo"! Tem ainda as pessoas, o que ocorre principalmente com as mulheres (não sei porque) que se parecem com chuva. Nem vou explicar, pois não quero ser desagradável. Já vi gente parecida com guarda-roupa e até com o mapa do Brasil. Fui em Porto de Galinhas e alguém me achou parecido com um senador. Não sei como é ser parecido com um senador, mas meu instinto mandou eu não gostar dessa analogia. As vezes essas identificações resultam de um mínimo detalhe, como é o caso do dente da paca, ou do conjunto da obra, como no caso das pessoas que se parecem com chuva. Mas nem todas as pessoas têm essas semelhanças com coisas concretas ou abstratas. Pois alguns indivíduos escapam  a toda e qualquer taxonomia ou caricatura. Quanto a mim, eu não sei direito como sou, pois sou avesso a espelhos e fotografias. Vejo muito meus braços e minhas mãos, como acabei de olhar agora. As vezes balanço essas extremidades que quase escapam do corpo, só para me observar e me saber. Também olho muito o movimento da minha sombra. Pelo modo que me observo, acho que me assemelho a um "joão-bobo", daqueles de borracharia e de loja de automóveis. Mas um joão-bobo farturento, tal qual o boneco da Michelin.


 
Eu não desejaria ser célebre por ser filho do Mick Jagger, ainda mais misturando as coisas com a Luciana Gimenez. Também não gostaria de ser célebre por ser filho da Xuxa, do Michael Jackson ou do Gugu Liberato. Aliás eu não gostaria de ser célebre por ser filho de alguém, filho de alguém todo mundo é. Não quero ser Maria Rita, a boba alegra da Preta Gil ou o sem noção do Supla. Aliás de novo, eu não gostaria de ser célebre, nem mesmo uma pessoa célebre por ser invisível como o Dalton Trevisan. Quero é não ser célebre como são os filhos de Irineu José Ribeiro e Vanilda Maria Machado Ribeiro.



 

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