Fazer o quê...?

Tem gente, e aparentemente em número crescente, que dispensa o café com pão matinal. Modismo, tendência, guerra ao glúten, o escambau. Não cogitei ainda aderir-me a essa onda. Marolinha pra uns, tsunami pra outros, e vamos buscando definições.

Mas eu vou é buscar o pão nosso de cada dia, pra matinal - e maquinal - orgia. Serve qualquer padaria, todas muito atentas à freguesia. E foi ali pelas seis e meia da manhã de hoje que, em meio à sonora alacridade das jovens atendentes, adentrei a panificadora Pão Nosso, dos amigos mais que meus, nossos, Ricardo e Nírio, que à hora, deviam estar dormindo o sono dos justos custos. E sonho com fartos bustos?

Saudei, como me é habitual, o moço que tomava café, copo americano, da porta de entrada, quase ao pé. Nem sei se havia mastigado alguma coisa. O que sei é que não ouvi se me retornou o cumprimento.

Fui cuidar de meu próprio interesse, não sem haver estranhado o mutismo do circunstante, um moço esbelto, dos seus trinta e tantos anos, falto em peso e pêlos, metido em traje singelo, mais pro azulado, e umas botas nos pés, distantes duma boa engraxada.

Ele chegou-se ao balcão antes de mim para acertar sua conta, e balbuciou para para a simpática atendente:

- Tou desempregado.

A palavra de consolo da moçoila saiu rápida, que soou até automática, vai ver que uma demonstração da frequência - e da prática.

Já do lado de fora do estabelecimento, Gilmar deixou de ser incógnito, e respondeu, sem entusiasmo, à saudação de um conhecido, que vinha entrando.

Fazer o quê...se não há serviço pra você?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 07/03/2016
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