PÔ CHEFE!
Assim gritou-me um contemporâneo de profissão, hoje igualmente aposentado. Muitas pessoas olharam, eu? Coloquei a mão no peito e só movimentando os lábios balbuciei a palavra eu, dando-lhe o complemento interrogativo, pela expressão do rosto. E ele pensando que iria constranger-me repetiu a chamada e acrescentou o motivo:
– Pô chefe! A favor da legalização da maconha?
Respondi que sim, pelo menos sobrariam policiais para nos proteger dos roubos e assassinatos. Por um instante desconcertei-o, sendo o suficiente para ladear-me com ele.
Continuei, acrescentando que renderia impostos pagos pelos consumidores e assim talvez desistissem da tal CPMF.
Ele tentando demover-me da ideia amontoou tantas outras justificativas, todas apelando para sentimentos e não à razão. Uma delas dizendo que se eu tivesse um ente querido viciado eu pensaria diferente. Pouco argumento, pois não é a origem da droga, se de traficante, se de comerciante que desperta o interesse, o consumo, não é o traficante que coloca as pessoas no consumos, mas o grupo social.
A proibição mostrou-se ineficaz, insuficiente.
Publicado originalmente no Correio Brigadiano - Porto Alegre - em 4/3/2016