Maciel centenário

Por quatro anos o José Maciel, vizinho de fundos da casa de meus pais, aqui na Velha Serrana das Gerais, teria pego esse festão que seu pessoal, descendência e contraparentela, fizeram para ele, ontem à noite no Centro Social da cidade. Ele mesmo já lhes dissera que se chegasse à centena, iria festejar por uma semana.

Eu, que tive o privilégio dessa vizinhança, ainda que intermitentemente, bem como o de ter vivido na Polônia de Walesa e Wojtyla na primeira metade dos anos oitenta, vejo boa razão para essa celebração: lá quando se aniversaria, ao invés do Parabéns pra você, o que se ouve é Sto lat, sto lat...que quer dizer, cem anos, cem anos...

Mas dalgum lugar o bom José há de ter ouvido e visto o que lhe aprontaram seus entes e amigos queridos: uma festa de encher os olhos - de alguma furtiva lágrima, inclusive. Acho que até o próprio Chico que anda execrado por haver elogiado a inclusão social em nosso país, mesmo de seu apê em Paris, em seu apego ao fado e fato tropical teria dito ao aniversariante Zé, que foi bonita a festa, pá...

Impecável organização, textos, e seleção musical para ninguém botar defeito - nem mesmo fãs de Maria Callas e Zé Rico como eu - o evento foi uma catadupa de tantas emoções. Os textos, primorosamente compostos e apresentados, retrataram a vida de um homem comum, provindo das bibocas da Vargem Grande, que realizou o sonho maior de ganhar a vida na cidade, na criação de numerosa família, sempre com o apoio inabalável de sua Conceição - mais até do que logrou o Cauby, em sua inesquecível marca registrada de canção - e, estabelecer-se como um amante inveterado da arte das letras.

E não foi sem razão, que duas obras póstumas suas vieram a lume, em formato de livro, graças à zelosa compilação de sua infatigável filha Helena, que aliás, com seu marido Milton e com seu irmão Ernani, formou o triunvirato apresentador do programa centenário.

E sobrou para toda a vizinhança que curtiu e aplaudiu o evento, enquanto degustava um menu digno de uma ilha Porchat: depoimentos, exposição em tela e, doce surpresa para o clã Miranda presente, rever la mirada serena de Luiz Velu, nuestro papá, que nos deixou há dois meses, ao som de Amigos para Siempre...

Com amigos assim, quem no de curtir não está a fim...?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 06/03/2016
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