BOLINHAS DE SABÃO
Quando criança gostava muito de brincar com bolinhas de sabão. Passava as tardes ensolaradas sentado na mureta da varanda com a canequinha de esmalte vermelha, descascada de tanto uso e os canudos de mamonas colhidos no terreno baldio em frente à minha casa. Isto tudo foi na década de 1960, no longínquo bairro do São Domingos no Butantã, ainda me lembro muito bem de que, por vezes, para produzir a espuma, usávamos sabão em pó das marcas Rinso ou Viva, por vezes detergente ODD da Orniex, marcas que há muito saíram do mercado.
Não era fácil moldar esfera tão singular, tinha uma técnica para apanhar a espuma, soprar o canudo, com leveza para não estourar e soltá-la de mansinho, permitindo que flutuasse até alcançar as alturas. Momento de pausa para observar e com os olhos acompanhar o trajeto da criação em direção ao infinito.
Já naqueles tempos e mesmo com pouca idade ficava a imaginar para onde iriam aquelas tantas bolinhas coloridas soltas pelo ar, a vagar. Nos meus pensamentos eu determinava o caminho a seguir de cada uma, como se fosse o senhor do destino. Então, num sopro e uma bolinha de sabão se fazia, logo ela leve e solta vagava pelo ar. Assim como meus pensamentos vagos. Esta vai para Roma para com o Papa rezar. Outra com certeza, logo estará sobrevoando o Morumbi torcendo pelo meu tricolor.
Outro sopro e mais uma esfera a voar com destino a qualquer lugar. Notava que poucas conseguiam vingar, muitas numa fração de segundos, estouravam antes de alcançar uma altura razoável. Mas tinham outras vitoriosas que iam longe, longe até a vista não mais alcançar. Para onde teriam ido aquelas tantas bolinhas de sabão, lindas criações, mas tão sensíveis ao vento?
Hoje, maduro e experiente, faço um paralelo entre cada bolinha de sabão surgida numa brincadeira infantil e cada vida nascente. Num sopro surgimos, morremos ou seguimos em frente e, mesmo com todo o vento nos deixando por vezes à deriva, fica a certeza de que podemos triunfar e atingir o nosso objetivo.