ESSA É PRA TOCAR NO RÁDIO !
ESSA É PRA TOCAR NO RÁDIO !
Os sonhos não se realizam... são
CONQUISTADOS a cada dia por
nossos pensamentos, palavras e,
principalmente, por nossas ações".
'NATO" AZEVEDO (anos 80)
Minha paixão por Rádio é antiga, vem da infância vivida no Sul, no Paraná. Além de ouvir duplas sertanejas -- caipiras, no falar da época -- por todos os cantos onde andava, na casa dos tios acompanhava eu as aventuras do "herói do sertão" JERÔNIMO e seu eterno companheiro de peripécias "Moleque Saci". 'Quem passar pelo sertão / vai ouvir alguém falar / do herói dessa canção, / que acaba de chegar". Mas, também se ouvia, ao cair da tarde as novelas de amor e tragédias cheias de vilões, como era comum naqueles belos (e velhos) tempos.
Em meus derradeiros dias em Rio Negro, lá por 1967 ou 68, creio eu, costumava visitar a Rádio local aos domingos de manhã, logo após a Missa. O modesto prédio ficava na praça central, bem em frente a um Cinema que pouco frequentei, mas eu preferia o "cine-poeira" perto da Matriz. Com a volta à terra onde nasci, Rio de laneiros e carnavais, não larguei o rádio (de pilha) em momento algum, o levava para os empregos e não o deixava nem nas idas à praia.
Curiosamente, a faixa de FM nunca me seduziu, gotava mesmo era do programa "povão", de comunicação e humor, como a saudosa "A Turma da MARÉ MANSA", uma loja de roupas e calçados no centro do Rio, com vendas por "carnet" (era escrito assim mesmo!) de prestações. Desempregado ou trabalhando, toda tarde às 15 horas eu ouvia meu programa de rock predileto, o "Música Contemporânea" da Rádio JORNAL DO BRASIL, não importa onde eu estivesse. Pouco depois, às 18 hs, tornava eu a ligar o "radinho" para apreciar o inigualável BIG BOY, exímio DJ e seu "Cavern Club", com as "pedras" do momento e, claro, os Beatles, no auge de suas famas.
Contudo, essa crônica não tem a intenção de recordar "águas passadas", mas narrar minhas "aventuras" em Radioemissoras paraoaras que, por um motivo ou outro, decidi frequentar. É bem possível que a PRK"qualquer coisa". lá de Rio Negro, tenha tido em seu exíguo palco as pernas finas e a voz estridente "desse locutor que vos fala". Embora tímido, tenho a sensação de ter me arriscado a cantar nos microfones, talvez nas férias de 1963 ou 64, quem sabe 1965.
Os fatos que narro são bem mais recentes e sucedidos aqui na capital do Pará, a partir de minha chegada, em agosto de 1986. Por volta de 1989, assíduo ouvinte da Rádio Marajoara AM -- e do locutor Everaldo Lobato, que admirava -- ouvi o dono da Rádio se propondo a fazer uma "maratona" de 36 horas no ar, começando na madrugada de um sábado qualquer, para terminar ao meio-dia de domingo, recorde sem precedentes na frondosa 'Cidade das Mangueiras". Com um centro cultural recém-criado, vi no evento uma oportunidade para divulgar a Capoeira para boa parte do Estado, a Rádio tinha Ondas Curtas e até Tropicais, tipo de faixa pouco conhecida. Saí de casa de madrugada -- num tempo em que Belém era um paraíso -- e "desembarquei" na Praça da República (onde ficava o prédio) às 5 e pouco da manhã. Portão aberto, sem porteiro e nem vigia, lá fui eu até o Estúdio, com berimbau de gigantesca cabaça, do tamanho de um balde.
Triste sina: no auditório vazio, o comunicador -- que "imitava" Sílvio Santos até nos gestos -- ressoava pelos alto-falantes, embora não estivesse sequer no "aquário". Não achei ninguém nem para entregar o "trambolho", que deixei encostado à parede do auditório. Como é comum na região onde quase todo projeto é farsa -- existe mas "funciona" bem aquém do divulgado (ou esperado) -- ou mera trapaça, "trambique", o sujeito tinha gravado de antemão todo o extenso programa "noturno" e, enquanto dizia estar "ao vivo", descansava em berço esplêndido, em sua casa.
Ano e meio depois, já fazendo parte de uma dupla sertaneja (ou quase isso!), procurei o comunicador Everaldo Lobato, com programa todas as tardes na RÁDIO CLUBE AM, num casarão antigo na Av. Almte Barroso, próximo do estádio do Clube do Remo. Nosso objetivo era divulgar evento artístico do centro cultural que meu irmão e eu fundáramos em meados de 1988. Everaldo se preparara tão-somente para um bate-papo entre a dupla e êle, até que meu parceiro resolveu tocar "um pouquinho" de violão.
Foi um "Deus nos acuda"... os microfones eram todos fixos na mesa por uma espécie de tripé metálico e nenhum ficava perto do violão o suficiente para se ouvir seu som. Tive minha prova de fogo como "radialista", esticando a resposta de certa pergunta por 6 ou 8 longos minutos, enquanto o técnico do estúdio instalava às pressas um captador de som no instrumento e todos respiravam aliviados.
Poucos dias depois, 2 ou 3 quadras antes na mesma avenida, procuramos a Rádio (e TV) CULTURA com o mesmo intento. Muito bem recebidos por um certo Edson Gillet Brasil, tivemos uns 40 minutos para mostrar as qualidades todas da dupla "Cultura Nossa". Na saída do "aquário" nos aguardava um "tampinha" de metro e meio (ou nem isso!) e 2 "armários" gigantes... eram êles o cacique de uma tribo (da qual esqueci o nome) e seus seguranças, eu acho. Nos convidaram para cantar na tribo... aceitei eufórico, era a glória, a constatação de nosso valor.
Assim que viraram as costas, meu parceiro quase pulou no meu pescoço:
-- "Você está maluco, Nato... se um de nós olhar pra bunda de qualquer índia, a gente não sai vivo da tribo"!
Não tive coragem para reverter a situação e a indiarada deve ter esperado um bom tempo pelos acordes e trinados da dupla.
Adiante, lá fui eu me meter em outra Rádio, agora por volta de 1995 ou 96. Era jornaleiro de um músico conhecido em meio bairro, vulgo "Ceará", que comandava a "bandinha" da emissora, num programa dominical de calouros, com repertório quase todo voltado para os ídolos dos anos 50 e 60, além de boleros, milongas e coisas semelhantes. Por meses "ameacei" participar! Num certo domingo deixei fregueses habituais de jornal com meu irmão e "voei" para a emissora.
Cheguei tarde, o elenco de calouros estava completo, fiquei aguardando alguma desistência. Teimoso, voltei mais cedo no domingo seguinte, escalado para cantar famoso bolero ("Numa noite fria / soluçando te dei meu adeus", etc) de minha escolha. Errei na letra, me disseram, mas tive 2 votos via telefonemas, contra 5 a favor da concorrente. Insistente, retornei no terceiro domingo, para nunca mais voltar.
Modéstia à parte, se há alguém que interpreto bem esse é Martinho da Vila. No meio da paresentação já tinha eu 3 votos, enquanto o dono do programa "insinuava" com todas as letras que eu pagara amigos para me classificar. Como havia prêmio em dinheiro ao vencedor, essa possibilidade era real. O fato é que o apresentador encerrou a votação assim que meu desafiante teve 4 votos, bem antes de eu terminar a canção "Grande Amor".
O vexame mais marcante sucederia anos depois, talvez por volta de 2002 ou 3... era uma vez uma emissora popular, com título de "Rádio-bairro", um pouco diferente das tradicionais "rádio-cipó" paraenses, comunicação por alto-falantes instalados em postes, nas feiras e rua próximas, em todas as cidades do interior. A Rádio em questão tinha inscrição no Estado e aguardava a mais de 2 ANOS a licença da ANAC (ou ANATEL) para funcionar, embora já funcionasse.
Em algum momento me contactaram para fazer parte dos programadores da emissora, um número considerável deles, cada um com hora de programa e 2 ou 3 dias na semana. Me deram 2 horas nas tardes de domingo e eu decidi preencher meu tempo com poesias (as minhas, é claro!) além dos discos LPs do anos 70, obras de nossa extensa discoteca, uns 3 MIL LPs na época. Curiosamente, o dono da Rádio, dos equipamentos todos, não atuava nela e, pela distância de sua casa, talvez sequer a ouvisse. Pelo Regulamento da ANAC o sinal dessas emissoras mirins não pode atingir mais que uns 600 ou 800 metros ao redor da antena de transmissão.
Para "encurtar" a história -- que daria um livro, pela proporção que tomou -- o rapaz responsável pela Rádio começou a boicotar meu programa, logo após o primeiro dia, quando me neguei a lhe emprestar raro LP, que eu exibira no programa de estréia. No domingo seguinte o toca-disco da Rádio "perdeu" a agulha e tive que fazer meu programa apenas com declamações e uma "enxurrada" horrenda de sucessos baratos (e vagabundos) que êle trazia num pendrive. No terceiro domingo levei agulha mas o sujeito me reservou nova surpresa: um jovem parceiro, de uns 15 anos, que era poeta e iria fazer o programa comigo, mesmo sem eu lhe pedir.
O rapaz veio com várias músicas locais cheias de indiretas à "gente de fora", aos "estrangeiros" -- tachados de "sulistas" ou "cariocas", meros "sinônimos" para boa parte dos locais -- às pessoas que vinham para o Pará apenas para saquear e prejudicar "os filhos da terra". Saí da Rádio "cuspindo fogo", afinal eu sacrificara toda minha tarde de domingo, andando a pé da rua WE 82 até a WE 35, mais de 1 quilômetro de distância. No meio da semana, reunião às pressas de todos o programadores... alguns estavam extrapolando de suas funções, até palavrões diziam, em pleno ar. Aberta a sessão, estava em julgamento o comportamento de 2 jovens petistas e, como detesto política, fui o primeiro a me manifestar pelo afastamento sumário das duas "pragas", sem saber que a Rádio era um extensão da militância "vermelha" e que, fora eu, todos os demais estavam inscritos no Partido. Venceu a maioria absoluta e os 2 "anjinhos" continuaram na Rádio. Mas, como diz o saber popular, "castigo vem a cavalo"! Nesse caso, veio à jato !
No domingo seguinte o rapaz faltou, meu programa correu às mil maravilhas e aproveitei para "descer o pau" no jovem poeta, que trocara o compromisso na Rádio por comemoração em casa, por ter passado no vestibular. Foi um erro crasso! Queridinho de todos, convenceu o "gerente" a me boicotar... encontrei a Rádio fechada, no meu horário, funcionando por pendrive com 6 ou 8 horas de música barata. Regressei disposto a encerrar a "carreira" de radialista. Passados 2 ou 3 domingos o "gerente" me "reconvida", aceito constrangido e, ao chegar à Rádio, ela estava mais uma vez fechada, agora com correntes no portão. Irritado, vou à casa do dono, sr. Nagib, e fico sabendo que os 2 "vermes" petistas (novamente desligados da Rádio) furaram a parede externa do estúdio e "acorrentaram" o portão.
O caso foi parar na delegacia do bairro, onde se descobriu (?!) que a Rádio ainda não tinha licença de funcionamento, solicitada 2 ANOS antes. Daí entrou a PF - Polícia Federal na "história", lacrou o casebre da Rádio, confiscou todo o caríssimo equipamento e ENCERROU -- nessa democracia de m... que vigora no Brasil -- mais um espaço de promoção social dos cidadãos. Quanto aos 2 energúmenos, continuaram mais petistas do que nunca e, nas eleições de 2012, um deles virou candidato a vereador -- agora "atuando" dentro de um posto de saúde, no PAAR -- e recebeu mais de 800 votos ! Assim caminha a Humanidade...
"NATO" AZEVEDO (escritor e compositor / 07 de março 2016)