Cafeicultura na Belle Époque
 
Luiz Carlos Pais

 
Nos tempos áureos da chamada belle époque, em 1882, foi lançado no Rio de Janeiro um jornal de circulação quinzenal, redigido em francês, L’Étoile du Sud, anunciado como órgão de interesse comercial, marítimo e financeiro para empresários de vários países do mundo. Edições de 1912 mostram que esse jornal circulou, pelo menos, por três décadas. O centro do mundo capitalista ocidental, naquele momento, era Paris e todas as relações internacionais aconteciam em francês. Bem distante do glamour europeu, no interior de Minas, São Sebastião do Paraíso também atravessava um período marcante de desenvolvimento na primeira década do século XX.
 
Foi nesse contexto que o referido jornal escrito em francês publicou uma notícia de interesse dos produtores e exportadores de café do sudoeste mineiro, em edição de 21 de fevereiro de 1909. A câmara municipal de São Sebastião do Paraíso, presidida pelo médico Placidino Brotero Franklin Brigagão, havia enviado uma representação ao Presidente da República, Afonso Penna, líder do Partido Republicano Mineiro, chamando a atenção para uma suposta taxa excessiva, no valor de cinco francos, por saca de café, que o governo paulista estava cobrando nas operações de exportação realizadas pelo Porto de Santos, qualquer que fosse a origem do produto.
 
O referido documento subscrito pelos políticos e coroneis paraisenses lembrava ao Presidente da República as possíveis consequências negativas da redução dos lucros da atividade cafeeira, decorrentes das ditas elevadas taxas de exportação, bem como de outras dificuldades enfrentadas pelos fazendeiros, naquele momento. Advogados consultados pelos políticos paraisenses consideraram a cobrança da referida taxa uma irregularidade constitucional. Além do mais, havia outra medida imposta pelo governo paulista que limitava as exportações de café a 9 milhões de sacas para as colheitas de 1908 a 1910. Uma medida para forçar a elevação do preço no mercado internacional.
 
Estava previsto que o limite máximo de exportação passaria para 10 milhões de sacas para as colheitas de 1911 e 1912, porém, com uma sobretaxa de 20% para a quantidade exportada além do limite estabelecido pelo governo paulista. Diante dessa situação visivelmente injusta, os políticos paraisenses pediram a intervenção do Governo Federal para acabar com esse considerado estado de exploração. Naquele momento, ainda não se percebia, com muita clareza, que o período de bonança estava acabando, com o anúncio de um provável grande conflito bélico. Em julho de 1914, começaria a Primeira Guerra Mundial, e a belle époque ficou na história.