Pragas da nação
 
Parte do povo brasileiro odiou ver seu alter ego alçado a patamares temidos, mas jamais realmente considerados. Não sabia o quanto se veria nele e o odiaria por expor o que escondia como ética, até a inusitada eleição, e a seguir, uma montanha russa de surpresas que essa persona proporcionaria. Essa classe previu muitas das possibilidades pessimistas. Errou subsequentemente e acertou no que não pensou, embora a tenha ardentemente desejado. Como há indícios da realização desse anseio é inevitável o prévio festejo. Seria o insólito destino vingador a degolar seu mestre no ostracismo do palco de suas próprias peripécias. Outra parte do povo, imprensada no vendaval de informações, aloja-se tropegamente como bala perdida na mais próxima das persuasões, ou flutua à deriva, face ao turbilhão de opiniões. A terceira parte, filha herdeira e fiel da balança nas eleições, teme por uma presente prenunciada tragédia e sua virtual efetivação. Em outras palavras: existe uma elite pasma, depois sócia, depois cúmplice; uma classe média revoltada, depois adversária velada, depois indignada e por fim uma classe básica encantada, depois temerosa, depois atordoada e ameaçada. Porém a ética da quase totalidade da população se vê exposta pelos homens eleitos, quase de modo geral, e que são filhos do seu seio, como um estandarte exibidor de suas feridas mais recônditas como resultado do princípio do quanto mais melhor/a qualquer custo/mas de risco calculado, onde a subestimação do que é justo é proporcional à habilidade de se esquivar lucrando. Nesse caos, até a indignação há de ser avaliada para saber de que interesse contrariado ela se origina, senão o da sociedade como um todo. As ideologias e o partidarismo estão sujeitos ao vírus da corrupção com a mesma fragilidade que os cidadãos (corruptos ou não) ao Aedes aegypti numa prosaica réplica trágica das pragas da nação.