O BBB é a expressão da Sociedade Panótica analisada por Michel Foucault em Vigiar e Punir: prisão e observação através da vigilância constante de todos sobre um grupo e de todos sobre todos. O que dizer das câmeras instaladas nas ruas, residências e estabelecimentos?!

E você assiste, querido/odioso autor? Assisto, por que não? Porque sim! Porque gosto de observar o humano para entender as próprias mazelas e benesses. Porque me aposentei e quero o ócio, o fútil e a inutilidade do prazer.

“Olha ele aí” rasgando o verbo para se fazer sujeito e nunca objeto de opiniões alheias!

BBB – Entretenimento e Inutilidade?



O novo século no Brasil trouxe para os sistemas televisivos os “Espetáculos Reais”. Ou como requer nossa mentalidade ainda colonizada: Reality Show.
Colonizada sim! Porque ainda pensamos que o melhor é aquilo que vem de fora, das metrópoles; o elegante é comunicado em outras linguagens que não a nacional; o civilizado e culto se aproxima das nações imperialistas; o correto é negar tudo aquilo que não é etnicamente branco. É esta a maldição do capitalismo. Aquilo que não tem sua raiz européia é execrável!

O humano gosta de observar. E disto nasceram as atividades que alimentam sua psique: a arte, a ciência, o esporte e a religião. Paramos para ver, analisar e concluir.

A antiguidade parou para ver o circo romano e o teatro grego. O medieval parou para ver os ritos da “santa inquisição”. A modernidade parou para ver o método científico e a busca da luz da razão. A contemporaneidade parou para ver a indústria cinematográfica. E aí inicialmente as pessoas saíam para ir ao cinema, assim como hoje as famílias se prendem na frente de seus televisores e os indivíduos aos seus veículos de novas tecnologias. Tudo é, foi e será a busca do “show”, do espetáculo.

As massas que antes faziam sua cartase através das novelas agora têm os chamados “Espetáculos Reais”. Se naquelas as personagens seguiam o roteiro estabelecido e um final dramático determinado pelos diretores, autores e roteiristas, nestes os atores são dirigidos pelas emoções guiadas por privilégios e necessidades.

Destes espetáculos televisivos o mais conhecido, criticado, xingado e até assistido sigilosamente pelos que se acham cultos demais e o programa popular em demasia para o fino gosto é o BBB – o Grande Irmão Brasileiro.

Mas não é este espetáculo muito mais, antes de ser um entretenimento qualquer, um laboratório das Ciências Humanas? Ali temos uma colônia para análise de comportamento de onde se infere teses, hipóteses, conclusões e métodos regidos por prêmios e privações.

Como tudo na vida é uma questão de olhar segundo a formação e informação que se tem de si próprio, do outro e da vida.

Ali temos traços da Política, o jogo dos interesses; da Antropologia, seres que buscam a civilidade para fugir do animalesco; da Sociologia, grupos que se formam em prol do interesse coletivo; da Psicologia, o privilégio e a privação influenciando o imaginário pessoal e coletivo; da Linguística, a língua falada segundo o regionalismo de cada participante.

E neste espetáculo, jogo para alcançar o prêmio maior em dinheiro, ganha quem for o mais cínico. Afinal o cinismo já foi até uma Escola Filosófica.

E você assiste, querido/odioso autor? Assisto, por que não? Porque sim! Porque gosto de observar o humano para entender as próprias mazelas e benesses. Porque me aposentei e quero o ócio, o fútil e a inutilidade do prazer.

“Olha ele aí” rasgando o verbo para se fazer sujeito e nunca objeto de opiniões alheias!


O BBB é a expressão da Sociedade Panótica analisada por Michel Foucault em Vigiar e Punir: prisão e observação através da vigilância constante de todos sobre um grupo e de todos sobre todos. O que dizer das câmeras instaladas nas ruas, residências e estabelecimentos?!

 



Leonardo Lisbôa

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de 19 de Fevereiro de 1998.
 
 
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 04/03/2016
Reeditado em 21/01/2020
Código do texto: T5563082
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