Crônica do tempo perdido

Você nasce, as expectativas ainda não são suas, e é por isso que usa azul por ser menino e rosa, menina, claro. Logo você pensará com a sua própria cabeça e aí sim a diversão começa. Começou. Você têm 10 anos, se olha no espelho e se imagina herói, como aqueles dos quadrinhos da Marvel ou da DC, pensa em salvar o mundo com seus super poderes, que ainda não chegaram, mas que você têm plena certeza de que vão chegar. O tempo passou. Agora você tem 16, seus poderes não chegaram, mas você descobriu isso de forma dolorosa, olha pra si mesmo e se imagina daqui a 20, fazendo o que gosta, sendo feliz, fazendo alguém feliz, pensa nos amigos que deixou pra trás quando entrou no colegial, das horas perdidas sem estudar, mas continua perdendo suas horas entre pensamentos e sonhos. Você fecha os olhos e de repente tem 40, não fez nada de que planejou, lamenta mais ainda o tempo perdido, mas continua a perdê-lo em meio a muitos “devia ter…” e “se eu tivesse..”, se distraí e pronto. Seus 60 anos chegaram, você chora pelo trem que deixou de pegar por preguiça, só pra ver o pôr do sol da praia de uma cidade qualquer que você ainda não conhecia, se entristece por não ter dito pra sua mãe que queria ser um antropólogo maluco, e não um médico super renomado, e que por fim, não foi nem um, nem outro, porque você tem muita coisa, mas vê que não tem nada. Você passou sua vida planejando e esqueceu que ela passa e apenas te convida a viver.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 02/03/2016
Reeditado em 01/01/2022
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